Hospital Municipal Professor Doutor Alípio Corrêa Netto, mais conhecido como Hospital Ermelino Matarazzo, é considerado uma das unidades de saúde de referência da Zona Leste de São Paulo. O site G1 visitou o local na sexta-feira, 5 de maio, e, no entanto, encontrou uma realidade bem diferente: pacientes enfrentam superlotação e situação precária de atendimento. Ao menos 30 pessoas aguardavam nos corredores lugar em um dos quartos de internação.
Sem espaço para novas internações, o hospital reúne em seus corredores acompanhantes e pacientes com todo o tipo de doença. Nos leitos improvisados há desde quem sofra com dores estomacais até pessoas que esperam por cirurgia no cérebro.
Cerca de três horas após a visita do G1 ao hospital, o prefeito João Doria (PSDB) e o secretário de Saúde Wilson Pollara informaram que o problema já estava resolvido e que não havia mais pacientes em macas.
No momento em que o G1 esteve no local, macas eram enfileiradas lado a lado na tentativa de acomodar os enfermos que não paravam de chegar. A prática ignora qualquer condição de conforto, seja para os pacientes que enfrentam a noite nos corredores frios ou para os visitantes, que têm de se esforçar para conseguir uma cadeira para sentar.
Nesta sexta-feira, ao menos 30 pessoas aguardavam nos corredores um lugar nos quartos de internação, que ficam no segundo andar do hospital. Isso sem contar aqueles que, com alguma “sorte”, conseguiram um lugar para esperar nas salas de enfermaria.
À espera de cirurgia
A dona de casa Eliane Gomes de Lima, de 32 anos, aguarda há 11 dias uma vaga na internação para a retirada de um tumor no cérebro, mas a única transferência que conseguiu até agora foi de um corredor para o outro. “Eles vêm aqui e falam que tem muita gente, né. Então a prioridade estão dando para as emergências, para os idosos. Falam para mim aguardar mais um pouco“, conta.
Por meio de nota, a Autarquia Municipal Hospitalar informou que “o hospital aguardava estabilidade do quadro para programar o procedimento neurocirúrgico” de Eliane, o que deve ocorrer até o fim da próxima semana.
Antônio Carlos da Silva, que acompanha o pai, Jacinto Agripino da Silva, há três dias no hospital, questiona a suposta prioridade alegada pelo hospital e reclama do vento frio que corta os corredores no local.
“Pela idade dele, 82 anos, era para estar [no quarto]. Um cara mais novo aguenta ficar no corredor. Agora, um de 82 anos? Arrumei outro cobertor, e agora ele está com dois e ficou mais quentinho, mas está meio feio o negócio“, afirmou. Jacinto sofre com “dores na barriga e no rim“, disse o filho de Jacinto, que informou que o pai ainda não tem um diagnóstico.
Na maca vizinha à do idoso, o paciente José Oliveira Nascimento, de 66 anos, se recupera de um acidente vascular cerebral (AVC) e se contorce de dor. O irmão, Carlos Rogério, 54, que o acompanha, mostra tranquilidade ao acudi-lo. “É frequente”, relata. A tranquilidade, no entanto, já se confunde com um conformismo. “Os hospitais públicos não oferecem condição nenhuma, e aí a gente fica nessa batalha, muitas vezes vendo a pessoa padecer sem poder fazer nada“, lamentou.
Problemas ‘resolvidos’
Em evento público na Zona Norte de São Paulo, cerca de duas horas após o G1 ter estado no hospital, o prefeito João Doria disse que o problema já estava “resolvido”.
“Imediatamente [que soube do problema] acionei o secretário [de Saúde, Wilson Pollara] e disse ‘eu gostaria que esse assunto fosse resolvido hoje’. Não faz sentido você ter pessoas em corredor de hospital público, de forma alguma. Já foi resolvido, já houve o endereçamento das pessoas no próprio hospital para o atendimento”, informou Doria.
O secretário Wilson Pollara, em conversa por telefone com o G1, disse que a pasta não sabia dos problemas no hospital antes de o caso ser divulgado pela imprensa, mas reforçou a fala de Doria, informando que os casos já tinham sido solucionados.
Segundo Pollara, os problemas na unidade se devem a uma “utilização inadequada dos leitos“, pois pacientes que tem cirurgia marcada para daqui a uma semana já estariam internados. Além disso, outros que já deveriam ter recebido alta permaneciam internados, segundo o secretário.
“Fomos com uma equipe lá no hospital hoje [sexta]. Pacientes foram realocados para outros dois hospitais da região. Os que podiam ter alta tiveram alta, e os que estavam no corredor já não estão mais“, disse. Segundo o secretário, a pasta espera a liberação de R$ 70 milhões da Caixa Econômica Federal, que deverão ser usados em reformas de quatro hospitais municipais, incluindo o Ermelino Matarazzo.
Por meio de nota, a Autarquia Hospitalar Municipal (AHM) informou que “não deu alta a nenhum paciente sem necessidade“.