Cerca de 50 pacientes que precisam de hemodiálise em Campo Limpo Paulista (SP) tem enfrentado uma rotina desgastante para receber atendimento. Como não é possível fazer o tratamento no município, eles viajam três vezes por semana para outras cidades, como Jundiaí, Bragança Paulista, Campinas e até Atibaia.
No entanto, a revolta dos pacientes é ainda maior porque o sonho de se tratar perto de casa passou a ser possível desde o ano passado, quando uma clínica de nefrologia foi inaugurada na cidade para atender em parceria com a prefeitura. Porém, as 25 máquinas de hemodiálise novas estão paradas.
De acordo com o secretário de saúde de Campo Limpo Paulista, Luis Fernando Tofani, a prefeitura deu entrada no credenciamento da clínica neste ano, mas o funcionamento ainda precisa ser autorizado pelo Ministério da Saúde.
O ministério informou que ainda não recebeu o registro do governo estadual, que por sua vez alegou que o registro do serviço não está cadastrado no Ministério da Saúde.
Enquanto o espaço continua sem ser utilizado, há nove anos a aposentada Maria da Lapa, de 60 anos, precisa acordar às 3h30 para pegar um ônibus que a leva para fazer hemodiálise em outra cidade. “De segunda, quarta e sexta, das 6h às 10h, eu faço o tratamento em uma clínica de Jundiaí“.
Situação semelhante vive outro morador de Campo Limpo Paulista, o aposentado Antônio Leonel. Há quatro anos, duas vezes por semana, ele acorda bem cedo e se prepara para também viajar. “Eu fico três horas, mas têm pacientes que ficam quatro. É puxado e a gente saí de lá balançando“.
Os dois pacientes embarcam no mesmo ônibus, que os leva para uma clínica de Jundiaí, referência na região em hemodiálise e que foi inaugurada há mais de 30 anos. Todos os pacientes que fazem hemodiálise passam por uma máquina que limpa e filtra o sangue, fazendo o papel do rim.
Assim que terminam o procedimento, os pacientes enfrentam o caminho de volta para Campo Limpo Paulista.
“São seis horas e meia fora de casa, eu chego muito cansado. Eu não tenho como fazer um transplante de rim, porque sou cardíaco. Meu rim é a máquina”, desabafa o aposentado Antônio Leonel.
O cansaço dos pacientes poderia ser amenizado se o Centro de Nefrologia de Campo Limpo Paulista estivesse funcionando. O local foi inaugurado no dia 13 de fevereiro do ano passado sem os alvarás do Corpo de Bombeiros e da Vigilância Sanitária. As autorizações só foram emitidas em dezembro, 10 meses depois da inauguração.
O problema é que as máquinas estão paradas e, de acordo com o dono da clínica, Nilso Moreira, um esquema está sendo feito para que isso não prejudique o funcionamento delas. “A gente chama o responsável, o fabricante vem e testa mensalmente. Algumas a gente encaminha para outra unidade 20 quilômetros daqui, coloca para funcionar e depois traz e faz um fluxo para não perder para que essas máquinas não travem“.
Credenciamento
De acordo com o secretário de saúde de Campo Limpo Paulista, Luis Fernando Tofani, somente este ano a prefeitura deu entrada no credenciamento da clínica. Mas o funcionamento ainda precisa ser autorizado pelo Ministério da Saúde.
“Desde o começo de janeiro conseguimos protocolar esses documentos juntos à gestão regional de saúde. Houve aprovação da estância regional no mês de abril e estamos aguardando a aprovação da estância estadual no mês de maio e, depois disso, segue a documentação para o Ministério da Saúde que, mediante portaria, vai habilitar o serviço e disponibilizar os recursos financeiros para o funcionamento“.
Já para a clínica funcionar é preciso que seja feita uma parceria entre o dono, que é uma empresa particular, e os governos federal, estadual e municipal.
O ex-prefeito de Campo Limpo Paulista, José Roberto de Assis, que estava no dia da inauguração da clínica, mandou uma nota pela assessoria de imprensa dizendo que o Governo do Estado colocou obstáculos para o não funcionamento da clínica, e que a prefeitura já tinha enviado todos os documentos para legalizar o funcionamento do local.
Assis disse ainda que ele mesmo enviou diversos e-mails para representantes do Estado, mas não conseguiu retorno. Assim, a cidade nunca recebeu o repasse de verba para atender os pacientes.
Por outro lado, o Governo do Estado informou que, para o Centro de Nefrologia funcionar e receber dinheiro, precisa de habilitação do Ministério da Saúde. Para que isso seja feito, faltava o centro estar registrado no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, medida concluída no dia 24 de abril.
Já o Ministério da Saúde disse que aguarda o estado aprovar toda a documentação para que seja enviada para Brasília. Por isso, a pasta afirma não ser possível definir um prazo para funcionamento da clínica.