O marketing do álcool é bastante difundido nas Américas, com modernas técnicas que vão além de propagandas tradicionais em mídias impressas e eletrônicas. Também incluem produtos de marca, patrocínio de equipes e eventos esportivos, entre outros. A nova publicação da OPAS, “Technical note: Background on alcohol marketing regulation and monitoring for the protection of public health“, fornece elementos que podem ser usados pelos governos para fortalecer marcos legais e regulatórios que ajudariam a reduzir ou eliminar a exposição ao marketing do álcool.
“Quando um produto qualquer é promovido e tem uma campanha publicitaria bem-sucedida há automaticamente o aumento de vendas. O álcool não é um produto qualquer como roupa e carro e tem que ser tratado de modo diferente devido aos riscos envolvidos. A batalha para eliminar a imagem do álcool é mundial do mesmo modo que ocorreu com o tabaco e mesmo assim os jovens fumam muito. A questão que merece muito respeito é a fiscalização clara dentro da lei para o estabelecimento de ponto de vendas não podendo estar próximo de escolas e longe de estádios de esportes, por exemplo. Temos mais de um milhão de pontos de vendas de bebidas alcoólicas no país. Outra restrição importante é não vender bebidas alcoólicas em comércios simples como supermercados e quitandas”, destaca o psiquiatra Carlos Salgado, membro da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e conselheiro da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras Drogas.
Segundo a publicação da OPAS e da revista científica Addiction, existem evidências substanciais que associam o marketing do álcool ao comportamento de consumo dos jovens. Esses estudos mostram que quanto mais cedo os jovens são expostos ao marketing do álcool, mais probabilidade têm de começarem a beber precocemente ou de ingerirem uma maior quantidade de álcool, caso já bebam. O uso nocivo do álcool é um dos quatro fatores de risco evitáveis mais comuns para as principais doenças não-transmissíveis e um fator de risco importante para violência e lesões. Também tem impacto em outras condições de saúde, incluindo HIV/Aids e tuberculose, bem como no desenvolvimento econômico e social.
Eduardo Henrique Costa, 46 anos, funcionário dos Correios começou a beber aos 14 anos com os amigos. “Percebi que não conseguia mais parar de beber aos 37 anos. Foi quando entrei para o Grupo de Mútua Ajuda, programa oferecido pelo meu trabalho”, conta. Costa revela que não sabia que o álcool era uma doença. Casado há 24 anos e pai de duas filhas, quase perdeu a família para a bebida. “Estou há quatro anos e 49 dias sem beber, mesmo assim sigo fazendo o tratamento iniciado há 10 anos.” Durante a semana ele participa de três reuniões do AA (Alcoólicos Anônimos) e uma vez por semana frequenta o Grupo de Mutua Ajuda da empresa. “Essa ajuda salvou a minha vida. Se eu soubesse que iria me ajudar teria procurado antes. Não teria chegado ao ponto de ser um alcoólatra. Me perguntavam se eu havia bebido e eu dizia que não sendo que eu cheirava a cachaça, então eu mentia para mim mesmo. Cheguei a perder empregos devido ao alcoolismo”, lamenta.
O documento se baseia na “Estratégia global para reduzir o uso prejudicial do álcool” da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também no Plano de Ação Regional da OPAS. A publicação da OPAS observa que uma proibição abrangente do marketing do álcool é provavelmente a única maneira de eliminar o risco de exposição para aqueles que mais precisam de proteção, como os jovens e outros grupos vulneráveis.
Fatos sobre o álcool nas Américas
•O consumo de álcool na região das Américas é maior, em média, do que em outras regiões do mundo.
•As estimativas mostram uma alta prevalência de consumo episódico excessivo de bebidas alcoólicas entre jovens de 15 a 19 anos nas Américas (29,3% para adolescentes do sexo masculino e 7,1% para adolescentes do sexo feminino).
•O álcool é o principal fator de risco de morte e incapacidade entre pessoas com idade entre 15 e 49 anos nas Américas.
•Quase 40% dos países das Américas não têm restrições ao marketing do álcool e nenhum deles têm uma proibição total de comercialização. Sete países relataram ter códigos de auto regulação, apesar das evidências de que não são eficazes na redução da exposição dos jovens ao marketing do álcool.