É possível combinar tabaco e desenvolvimento? Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e diversos organismo internacionais em Saúde no mundo, a resposta é não. Por isso mesmo, o tema da campanha deste ano do Dia Mundial sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, é Tabaco: uma ameaça ao desenvolvimento. No Brasil, a campanha é coordenada pelo INCA.
Além dos danos à saúde pública, a produção e o consumo de produtos do tabaco geram importantes impactos socioambientais pouco conhecidos pela população, como o uso de lenha para aquecer as estufas que secam as folhas de tabaco que serão utilizadas na fabricação de cigarros, o que leva ao desmatamento e ao desequilíbrio da biodiversidade em tempos de severas mudanças climáticas.
No Brasil, estudo sobre impacto econômico do tabagismo no sistema brasileiro de saúde, revelou que em 2011 foram gastos R$ 23 bilhões com o tratamento de algumas das mais de 50 doenças tabaco-relacionadas. De outro lado, a arrecadação com impostos sobre cigarros (produto de tabaco mais consumido) recolhidos naquele ano foi da ordem de R$ 6 bilhões. Mas o custo do tabagismo no Brasil avaliado pela pesquisa ainda está subestimado: não incluiu o custo gerado pelo absenteísmo, perda de produtividade, despesas das famílias dentre outros gastos indiretos relacionados ao tabaco. Por isso, durante as atividades do Dia Mundial sem Tabaco, está prevista a divulgação de novo estudo com dados atualizados sobre o impacto econômico do tabagismo no Brasil, incluindo custos com perda de produtividade.
Mortes
A epidemia global do tabaco mata quase 6 milhões de pessoas por ano, das quais mais de 600 mil são não fumantes, vítimas do fumo passivo. Sem alterações de cenário, estão previstas mais de 8 milhões de mortes por ano a partir de 2030. Mais de 80% dessas mortes evitáveis atingirão pessoas que vivem em países de baixa e média renda.
Para auxiliar na contenção do problemas, os objetivos da campanha este ano são: dar visibilidade ao tabagismo como um entrave para o desenvolvimento sustentável; incentivar os países a incluírem o controle do tabagismo nas suas respostas nacionais alinhadas à Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável (conjunto de programas, ações e diretrizes que orientarão os trabalhos das Nações Unidas e de seus países membros rumo ao desenvolvimento sustentável); apoiar os estados-membros e a sociedade civil no enfrentamento da interferência da indústria do tabaco nos processos políticos que buscam reduzir o tabagismo; incentivar a participação de parceiros e da população nos esforços nacionais, regionais e globais para desenvolver e implementar planos e estratégias que priorizem as ações de controle do tabagismo; e demonstrar como os indivíduos podem contribuir para fazer um mundo sustentável, livre de tabaco, comprometendo-se a nunca usar os produtos de tabaco, ou abandonar o tabagismo.
Brasil
Entre os objetivos específicos do Brasil estão o estímulo aos coordenadores estaduais e a sociedade civil organizada para que pressionem gestores estaduais na defesa do aumento do ICMS sobre cigarros. A ideia é que parte dessa arrecadação seja destinada ao financiamento das ações estaduais para o controle do tabaco e para as instituições voltadas para o tratamento do câncer. A campanha também quer fortalecer a parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao apoiar o lançamento das novas imagens de advertência dos produtos do tabaco em desenvolvimento pela Anvisa com previsão de entrega no final de maio, dado o prazo legal que a indústria tem para substituir as antigas.
Há ainda várias denúncias sobre violação dos direitos humanos relacionadas ao trabalho infantil e trabalho penoso nas lavouras de fumo, e estudos comprovando danos à saúde do trabalhador, decorrentes da doença da folha do tabaco (intoxicação aguda pela nicotina absorvida pela pele durante a colheita) e do uso intensivo de agrotóxicos que causam, nos fumicultores e familiares, agravos como neurites crônicas incapacitantes, depressão e suicídios.