Conselho Gestor do Hospital São Paulo anunciou a possibilidade de reduzir ainda mais os serviços prestados pela instituição, caso não receba o reajuste de R$ 1,5 milhão por mês pedido ao Ministério da Saúde. Desde o dia 30 de março, estão suspensas as internações eletivas (agendadas) e o atendimento é dedicado à casos de urgência e emergência.
Uma das sugestões da diretoria para sair da grave crise financeira que acomete o complexo da Universidade Paulista de Medicina (Unifesp) há pelo menos cinco anos seria que a Prefeitura Municipal de São Paulo colaborasse com recursos, além de fornecer pacientes.
A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, o diretor-superintendente do Hospital São Paulo, José Roberto Ferraro, e o presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), Ronaldo Ramos Laranjeira, apresentaram um balanço da crise financeira do hospital no campus da universidade, na Zona Sul de São Paulo.
A receita do Hospital São Paulo é de R$ 568,9 milhões, sendo 47,8% do orçamento federal (gasto com RH (servidores públicos), 31% do convênio com o SUS, 9,1% do orçamento estadual, 7,3% do Ministério da Educação, já que se trata de um hospital universitário, e o restante das receita vem de outras fontes.
As despesas, entretanto, são maiores do que a receita, e giram em torno de R$ 603,5 milhões, resultando em um déficit de R$ 34,6 milhões.
Dívidas de R$ 160 milhões
Para lidar com os déficits anuais, a instituição se endividou gravemente, e a dívida com os bancos somam R$ 149 milhões com bancos, além de R$ 11 milhões com fornecedores, totalizando R$ 160 milhões em dívidas.
Os diretores dizem que o Ministério da Saúde não atendeu a solicitação de aumento de verba no contrato.
“O ministro da saúde não entende, por mais que tenhamos ido até lá três vezes, que sem esse R$ 1,5 milhão a mais por mês, sem verba, hospitais com este tipo de complexidade vão ter que diminuir“, disse o presidente da SPDM, referindo ao fato de que a instituição oferece atendimento, ensino e pesquisa. “Estamos no limite do endividamento. É contra nossos valores, mas vamos ter que diminuir os atendimentos se não tivermos recursos“, acrescentou o doutor Ronaldo Laranjeira.
De 2010 a 2016, contudo, a inflação e os dissídios salariais acumulados geraram um aumento obrigatório de 60% nos gastos. No mesmo período, o atendimento no pronto-socorro pelo SUS teve um incremento de 58,9% da demanda, segundo a equipe de especialistas.
Na última reunião com o ministro Ricardo Barros, o diretor-superintendente do hospital, José Roberto Ferraro, diz ter ouvido a sugestão de diminuir os atendimentos. “‘Se não é da sua região, não atenda’. É impossível fazer isto com a porta aberta! Eu confesso aos senhores. Eu não sei fazer isso“, disse. “Compreendo as regras de regionalização desrespeitadas. Mas fazer um plano de diminuição da oferta? Vou mandar pra casa?“, questionado Ferraro.
O G1 entrou em contato com o Ministério da Saúde sobre estes questionamentos da Unifesp e aguarda resposta.
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo esclareceu que, para auxiliar o Hospital São Paulo, unidade do governo federal, a Pasta está adequando a contratualização SUS do município com a entidade e no momento não há previsão de repasses financeiros.
Atendimentos
Apenas o pronto-socorro atende diariamente 1.500 pacientes das redes municipal, estadual e federal. A instituição oferece atendimento para cerca de 5,4 milhões de habitantes da Capital e da Grande São Paulo.
Sem prazo para receber o incremento na receita, os gestores do espaço dizem tentar outros mecanismos para evitar o fechamento de departamentos ou a redução do atendimento.
“Há algum tempo reduzimos custos. Reduzimos o número de funcionários, alongamos a dívida bancária, entramos em um programa do Ministério da Saúde para não pagar dívidas de impostos passados, estamos estudando a verticalização para diminuir aluguéis de outros imóveis que utilizamos na Vila Clementino, que é um bairro universitário. Estamos fazendo nossa tarefa para diminuir despesas“, enumerou doutor Ferraro.
O diretor disse que entre as alternativas estariam também a participação da Prefeitura de São Paulo nas receitas do local. “Ela não participa das receitas do hospital, apenas da oferta“.