O triste cenário da insegurança segue amedrontando médicos e usuários na rede de saúde do Recife. O panorama de abandono foi alvo de mais uma denúncia feita ao Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). Um (a) profissional médico (a), que não será identificado para garantir sua segurança, explicou que a Policlínica Gouveia de Barros, localizada no centro do Recife, também é cercada de medo e insegurança.
A unidade de saúde, instalada em um antigo prédio no Largo da Santa Cruz, tem um fluxo grande de atendimentos por dia. O (a) profissional explica que a insegurança é total e começa desde a hora em que chega ao local, pois não há estacionamento e é preciso deixar o veículo na rua ou em áreas de zona sul, o que necessita também estar “familiarizado” com flanelinhas, usuários de drogas e moradores que residem nas ruas da região, além de outros problemas.
Recentemente, por exemplo, os profissionais que atuam na Policlínica foram surpreendidos por um esfaqueamento decorrente de uma briga por conta da disputa entre “facções de crack” na área, onde até para fazer o atendimento pairava um clima de insegurança por não se saber se haveria represália pela prestação de serviço à vítima por parte de um grupo rival.
Na semana seguinte a este fato, mais um capítulo. Segundo a denúncia, a própria direção da unidade sentiu que a policlínica poderia ser invadida pelas mesmas pessoas envolvidas no esfaqueamento de dias anteriores, inclusive com ameaças a funcionários. O (a) profissional relata que não houve aviso aos médicos. “Quando estou saindo do trabalho, me deparo com cinco policiais na caçada a essas pessoas. Pensei ‘vou retirar logo meu carro daqui antes que eu leve um tiro ou alguém parta para cima de mim como profissional médico (a), me ameace ou sirva de refém’. Eles ameaçam o tempo inteiro entrar no posto ao ponto de a própria direção já estar sentindo medo. Como nós muitas vezes atendemos a sós, daqui que descubram que aconteceu algo conosco, já poderia ter acontecido algo pior ou até estarmos mortos. Não temo apenas pela minha segurança, mas pela de todos que trabalham no posto. Alguns deles estão recebendo ameaças e nós vamos trabalhar nesta condição de insegurança”, conta.
O (a) profissional diz ainda que há guardas municipais na unidade, mas que eles tentam, assim como quem trabalha em todos os outros setores da Policlínica, estabelecer um clima de amistosidade com público que circunda a unidade. Ele (a) relata que os arredores da unidade é ponto conhecido de dormida, prostituição e de tráfico de drogas, além de ressaltar que muitas vezes pacientes vão se consultar drogados.
Todos esses casos e a sensação de insegurança eminente fazem com que os profissionais pensem em não seguir mais na rede municipal, como é o caso deste (a) denunciante. “Eu nunca pensei em pedir demissão de vínculo público, mas confesso que está passando muito pela minha cabeça porque é uma situação que está me fazendo mal. Estudamos tanto para passar em um concurso público, atender as pessoas. Atendo a todos sem problema, mas desde que eu tenha segurança” lamenta.
A segurança é uma das principais lutas do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, que já denunciou diversos casos à gestão municipal, que segue sem tomar as medidas necessárias para minimizar a situação, como a volta da vigilância às unidades, solicitação feita várias vezes pelo Simepe. A questão da insegurança, inclusive, é um dos principais temas da campanha de mobilização que está sendo realizada pela categoria que atende ao município. No próximo dia 03 de maio, haverá uma nova AGE para avaliar as repostas ao pleito dos médicos, bem como definir os próximos rumos do movimento. O encontro será às 19h, na sede da Associação Médica de Pernambuco (AMPE).