Em 29 de abril de 2005 a Federação Europeia das Sociedades de Imunologia (EFIS, na sigla em inglês) lançava o Dia da Imunologia, adotado mundialmente, com o objetivo de reforçar a consciência pública sobre o tema. Neste ano, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) vem se manifestar publicamente sobre a situação brasileira na área nestes últimos dez anos. Avanços, desafios e situações que necessitam ser corrigidas.
Na última década é possível destacar o incrível avanço da imunologia terapêutica, utilizada no processo de diminuição de danos e/ou cura de alguma doença. Em 2013, por exemplo, o sucesso clínico da imunoterapia para o câncer foi reconhecido pelos editores da revista Science com a designação de “Breakthrough of the Year” (Couzin-Frankel, Science 2013). No entanto, as possibilidades terapêuticas não são restritas ao câncer e estão sendo aplicadas em outros tipos de doenças, incluindo as doenças negligenciadas, como a Doença de Chagas, Leishmaniose, Dengue, Hanseníase, dentre outras.
Apesar destes recentes avanços na Imunologia, ainda persistem algumas deficiências significativas se compararmos a pesquisa realizada no Brasil com aquelas realizadas nos países desenvolvidos. Uma clara expressão destas deficiências é a dificuldade que nossos pesquisadores têm encontrado para publicar em revistas de grande impacto por condições de precariedade relatadas na “Carta de Ribeirão” (Documento elaborado com base nas discussões sobre política científica no XXXII Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia em Ribeirão Preto, Outubro de 2008).
Ao longo destes anos, muito se evoluiu no desenvolvimento científico brasileiro. Entretanto, a ciência brasileira ainda prescinde de várias medidas que devem ser tomadas com a maior brevidade possível. A seguir pontos que acreditamos imprescindíveis a curto e médio prazo para tornar a imunologia brasileira mais competitiva:
1) Aumento dos investimentos em C&T para 2% do PIB brasileiro com investimento sustentado de longo prazo em C&T. Estando alinhado com as demandas propostas pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Hoje o investimento brasileiro em C&T está estimado em 1,2% do PIB, não levando em consideração os cortes e contingenciamentos ocorridos no orçamento de 2015;
2) Maior brevidade para aquisição de equipamentos e insumos importados. Apesar de diversas leis e regulamentações terem sido aprovadas ou propostas, ainda sofremos com uma importante morosidade nas importações de equipamentos e insumos científicos. Está em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei no. 4411/2012, de autoria do Deputado Romário, que “propõe a eliminação da burocracia de importação de mercadorias destinadas à pesquisa científica e tecnológica através da criação, pelo CNPq, de um cadastro nacional de pesquisadores que teriam liberação imediata das mercadorias a eles destinadas”. A SBI apóia integralmente essa iniciativa e solicita maior agilidade na tramitação deste projeto pelo Congresso Nacional, que neste momento foi arquivado pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados;
3) Maior agilidade na análise e aprovação de protocolos que dependem de agências regulatórias como ANVISA, CONEP, CTNBio, CONCEA, etc. A utilização de amostras humanas para pesquisas científicas, organismos geneticamente modificados (OGM), animais de experimentação, dentre outras, requer aprovação por agências e/ou comissões regulatórias para o início e andamento dos protocolos. A morosidade e a grande carga de burocracia destas agências impactam significantemente no andamento das pesquisas que necessitam de agilidade para poder estar competitiva a nível mundial. A transparência no julgamento e uma maior agilidade nas análises dos projetos científicos devem ser um objetivo a ser alcançado;
4) Autonomia nacional de produção de insumos para C&T, incluindo imunobiológicos e produção de animais de experimentação de alta qualidade. O Brasil deve ter como uma das suas prioridades o desenvolvimento de um parque industrial que tenha capacidade para suprir as necessidades da pesquisa científica nacional de alto nível e de qualidade, com agilidade de produção necessária para suprir a ciência de excelência.
Ainda que os pontos acima sejam para Imunologia no Brasil e para a pesquisa em ciências biomédicas em geral, consideramos que grande parte dos pontos levantados devem ter impacto em C&T do país de uma maneira geral. A sociedade brasileira não pode mais prescindir dos avanços científicos e de desenvolvimento tecnológico que irão agregar uma maior qualidade de vida, principalmente aqueles relacionados à saúde da nossa população.
Finalmente, neste Dia da Imunologia é necessário falar de vacinação. A escolha se deve às recentes campanhas que difundem de forma fantasiosa e distorcida de dados sobre insegurança das vacinas. A SBI reforça que um dos principais avanços em expectativa e qualidade de vida para a população mundial se deu pelo desenvolvimento e implementação de vacinação da população.
Devemos lembrar do impacto da vacina contra a Varíola, uma doença que está erradicada e das campanhas de vacinação contra Poliomielite, que está praticamente erradicada no Brasil. Precisamos, ainda, ressaltar a importância das vacinas contra as doenças infantis como Sarampo, Varicela, Coqueluche, dentre outras, que impactam de forma expressiva na diminuição da mortalidade infantil. Recentemente repercutiu muito bem o esforço brasileiro para obtenção de uma vacina contra o HIV, a inclusão da vacina contra o HPV em adolescentes e o desenvolvimento da vacina contra a Dengue. A SBI gostaria de reforçar a importância da vacinação para saúde publica brasileira, assim como mundial e que não devemos em nenhum momento duvidar da eficácia desta conquista da Imunologia.