Nascida com fibrose cística, doença genética rara, Melissa Benoit, 33 anos, desenvolveu uma infecção que se espalhou por todo o seu corpo. Quando nenhum antibiótico parecia ter efeito e o quadro se encaminhava para uma falência múltipla de órgãos, os médicos do Hospital Geral de Toronto precisaram recorrer a uma medida drástica para evitar sua morte: combater a origem do problema e retirar seus dois pulmões, durante uma cirurgia que se estenderia por nove horas.
Ao longo dos seis dias seguintes, ela foi mantida viva através de aparelhos. Esse foi o tempo necessário para que encontrassem pulmões compatíveis para um transplante. Melissa ficou ligada a uma máquina pulmonar e também a um sistema de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), tecnologia utilizada em situações graves para oxigenar o sangue e remover o dióxido de carbono.
“Esse é um caso extremo e foi tomada uma atitude, pode-se dizer, heroica. Se não fosse feito nada, certamente ela teria morrido da infecção. A vantagem é que estava em um hospital com essa tecnologia – que tem custos elevados – disponível, com uma grande estrutura, experiência em casos muito graves e que é referência em transplante de pulmão”, explica o pneumologista Marcelo Tadday.
Ele lembra ainda que o uso do sistema de ECMO não é exatamente novo: existem relatos da aplicação da técnica desde os anos de 1970, sobretudo na pediatria. O pioneirismo, afirma Tadday, está no fato de a paciente ter sido mantida assim – e durante tanto tempo – após a retirada dos pulmões, enquanto aguardava um doador.
Entenda a fibrose cística
De acordo com o pneumologista, a fibrose cística é a doença genética grave mais comum na infância e atinge cerca de 70 mil pessoas em todo o mundo. Trata-se de um quadro crônico que afeta, sobretudo, pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. “Um gene defeituoso e a proteína que ele produz levam o corpo a produzir muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o usual”, detalhe o pneumologista.
Com isso, ocorre o acúmulo de bactérias e germes nas vias respiratórias, causando colonização do pulmão por micro-organismos e infecções de repetição, que levam à perda progressiva da função pulmonar. Ou seja, quadros infecciosos, a exemplo do que ocorreu com Melissa, são frequentes – embora nem sempre tão extremos – em pacientes com a doença.
O muco mais espesso também pode bloquear o trato digestivo e o pâncreas, o que impede que enzimas digestivas cheguem ao intestino. Por isso, alerta ainda Tadday, pessoas com fibrose cística frequentemente precisam repor essas substâncias através de medicamentos tomados junto às refeições, como forma de auxílio na digestão e nutrição apropriadas.
Fonte: Simers