Há 10 anos, o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, no Recife, adquiriu três equipamentos de radioterapia. Em uma década, eles nunca entraram em funcionamento. Primeiro faltava local pra instalar os equipamentos. Agora, os aparelhos ficaram tanto tempo parados que precisam de novos programas pra operar.
O acelerador linear e as máquinas de cobaltoterapia e braquiterapia foram adquiridos por R$ 7 milhões e precisavam de um prédio com salas especiais, revestidas de chumbo. A unidade de radioterapia foi finalizada, abriu as portas há quase seis meses, mas ainda não realizou uma sessão sequer.
Um cartaz afixado na porta do setor afirma que o horário de atendimento é das 7h ao meio-dia. Mas, na recepção, a informação é outra. “Por enquanto a gente está transferindo para fora”, afirma uma funcionária, que diz não saber a previsão para o prédio novo começar a atender a população. Enquanto isso, são corredores, salas e consultórios vazios.
A unidade de radioterapia sofre com o atraso. De acordo com a placa na frente do prédio, a obra começou em 2010 e tinha prazo de um ano e meio. Ou seja, deveria estar pronta há cinco anos. Um investimento de quase R$ 3 milhões que ainda não se converteu em benefício para os pacientes. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve ter este ano 600 mil novos casos da doença, e 60% dos doentes precisarão de radioterapia.
A dona de casa Edilene Oliveira está tratando um câncer de mama no Hospital Oswaldo Cruz. Mora no município de Garanhuns, distante 230 quilômetros do Recife, e precisa ir à capital de duas a três vezes por semana. Ela e o marido, o funcionário público Algernon Monteiro, já foram avisados que a radioterapia precisará ser feita em outra unidade de saúde. “Aqui está sem condições. É triste. A gente ser humilhado, sair de uma cidade do interior para quando chegar aqui ficar pulando de galho em galho porque não tem o tratamento correto no hospital”, reclama Algernon.
Um giro pelo entorno do prédio evidencia que ainda faltam ajustes: é possível ver materiais jogados nos corredores e uma porta com tapumes. Ao lado da unidade, lixo acumulado. E acompanhantes de pacientes insatisfeitos com um serviço que o hospital de referência ainda não oferece, mesmo tendo equipamentos há 10 anos.
“Já faz sete meses que meu filho está em tratamento e agora vai começar a radioterapia. Encaminharam a gente para outro hospital porque aqui não faz. São oito sessões. Para ficar levando ele para lá e para cá todo dia é muito complicado”, diz o autônomo Inaldo Moura, que tem um filho com leucemia e reside em Lagoa de Itaenga, cidade que fica a 64 quilômetros do Recife.
A entidade informa que o Brasil tem um déficit de 200 aparelhos de radioterapia e que, por isso, deixa de tratar 40% dos pacientes que necessitam do tratamento. “É vergonhoso deixar aparelhos encaixotados, estragando, por falta completa de gestão pública”, dispara Weltman.
O supervisor médico do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Gustavo Trindade Filho, explica que os equipamentos estão passando por uma atualização para entrarem em funcionamento. “Nossa previsão é que, para o começo do segundo semestre, agosto de 2017, a gente possa estar começando a funcionar com a primeira máquina, o acelerador linear”, afirma.
Fonte: G1