No Brasil não há dados específicos e recentes sobre suicídio entre médicos, mas o assunto já é discutido no meio, por conta da alta incidência, segundo o presidente do sindicato dos médicos de Campo Grande, Valdir Shiroma.
No sábado, 10 de dezembro, a médica Valquíria Feitosa Patrício Gomes, 31 anos, e o filho dela, João Roberto, de 2 anos, foram encontrados mortos na casa em que moravam, no bairro Itanhangá Park. A principal suspeita da polícia é que ela sedado o filho e cometido suicídio com carvão queimando dentro do quarto, para levar à asfixia.
“Nós temos um encontro anual promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria, porque o número de casos é muito alto. As reuniões tentam amenizar os casos e orientar os profissionais de que essa ‘vontade’ precisa ser tratada e de que nós médico também temos o direito de sofrer emocionalmente”, comenta o presidente.
Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo aponta algumas razões para a elevada taxa de suicídios entre os médicos. Entre elas estão a negação do estresse de natureza pessoal; do desconforto psicológico; a negligência da família e dos colegas (ele é médico, sabe se cuidar); os médicos têm o meio do suicídio ao alcance das mãos (métodos mais eficazes para o êxito).
O sindicalista concorda e diz que outro fator de influência é a falta de condições de trabalho, principalmente na rede pública de saúde, cada vez mais precárias.
“Nós estamos trabalhando num ambiente totalmente inadequado, sob pressão e a sociedade cobra muito do médico o que, na verdade, deveria cobrar dos gestores. Além da frustração, existe o desgaste. Cada vez que você assume um plantão e a demanda é grande, que não tem macas, você pede um exame e o paciente não faz, tudo isso sobrecarrega muito”, diz Shiroma.
Ainda segundo a pesquisa do Instituto de São Paulo, os níveis de perturbações emocionais em médicos jovens parecem estar aumentando, e ainda assim são raras as publicações de medidas preventivas ou programas de intervenção durante o treinamento e prática médica.
Para o Shiroma, a classe médica deve se tornar mais sensível a existência desse problema e mais apta a reconhecer “o pedido de ajuda” de um colega e de si mesmo.
“Somos exigidos ao máximo. Lidamos com a vida e a morte e este tênue limiar diariamente. Trabalhamos demais. Estudamos demais desde a época do vestibular. Sabemos muito de muita coisa, muitas patologias e ignoramos nós mesmos. Noites mal dormidas, plantões de fim de semana, má alimentação, poucos exercícios físicos, automedicação. Nosso corpo sofre uma grande carga de stress que isso tudo traz e precisamos estar atentos”, diz.
Campo Grande News