A onda de criminalidade em Porto alegre é assustadora. Conforme pesquisa realizada pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, a capital gaúcha ocupa a 43ª posição dentre as cidades mais perigosas do mundo. Segundo o ranking da mesma pesquisa, Porto Alegre tem 34,7 homicídios para cada 100 mil habitantes. Toda essa violência está refletida nos tantos casos de violência registrados em postos de saúde e hospitais da cidade. A situação faz com que médicos e outros profissionais da saúde estejam na linha de frente desse cenário de caos.
Segundo levantamento do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), em 2016 foram 15 casos de violência nos estabelecimentos de saúde de Porto Alegre, sendo que nove vezes bandidos invadiram os locais portando arma de fogo. Em 2015 foram 22 ocorrências. Muitas vezes os profissionais são colocados diante de uma situação extrema, quando qualquer movimento tende a gerar ainda mais conflito.
Essa realidade de muitos médicos reflete também no dia a dia da diretora do Simers que atende no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), zona Sul da capital, Clarissa Bassin. “A violência não é algo corriqueiro no PACS, pois atendemos muitos dependentes químicos, somos referência para jovens infratores e para aqueles presos que estão em regime semiaberto, além da guerra entre facções que nesta região é muito forte”, diz Clarissa.
Assim como outros tantos médicos que precisam lidar com essas situações, a diretora da entidade médica também tem na memória um momento de violência que marcou sua vida profissional. “Lembro do episódio em que um jovem se envolveu em uma briga e chegou no PACS bem machucado. Explicamos que iríamos encaminha-lo para o HPS, pois não temos cirurgião, então ele imediatamente agrediu fisicamente o enfermeiro. Foi uma briga bem na minha frente. Depois ficou um clima muito pesado para trabalhar naquela noite” relata.
Clarissa também conta que hoje o local está mais protegido, por conta da exigência do Simers para que a Guarda Municipal estivesse em frente ao posto, no início deste ano, quando médicos estavam completamente aterrorizados com a crescente onde da violência no local. “Hoje, a situação está melhor, pois a Guarda Municipal está sempre de prontidão. Isso se estabeleceu depois das reivindicações do Sindicato, junto aos médicos, para as autoridades”, esclarece.
A criminalidade aumentou consideravelmente no Rio Grande do Sul. O número de latrocínios, por exemplo, cresceu 128% no primeiro semestre desse ano, comparado com o mesmo período de 2010. Já no caso de homicídios dolosos, ocorreu o crescimento de 6%, em comparação o mesmo período do ano passado.
Websérie produzida pelo Simers retrata violência real vivida por médicos
Para conscientizar e sensibilizar a sociedade sobre as inúmeras dificuldades que os médicos enfrentam na prestação de um serviço de saúde de qualidade no país, o Simers produziu neste ano a Websérie “Nascidos para Medicina”. A obra ficcional, desenvolvida a partir dos relatos de muitos médicos, contém cinco episódios que retratam os desafios mais comuns vividos no dia a dia nos postos de saúde do Brasil, inclusive a violência.
O primeiro episódio “Quer morrer, Doutora”, mostra justamente essa situação de pânico vivenciada inúmeras vezes por médicos, pacientes e outros trabalhadores da saúde. No capítulo, bandidos invadem a emergência, exigindo atendimento rápido para uma mulher baleada. A médica Julia assume a responsabilidade de lidar com a situação, exigindo de si muita coragem e paciência. A websérie também trata de assuntos como falta de estrutura nas unidades de saúde e emergências superlotadas. Todos os episódios podem ser assistidos no site: www.nascidosparamedicina.com.
Fonte: Simers