Os pais de pacientes do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Fariae representantes do Conselho Municipal de Saúde de Joinville realizam duas manifestações em apoio à instituição, que anunciou a paralisação de alguns procedimentos por causa do atraso nos repasses de recursos do governo do Estado.
Um abraço simbólico ao hospital no final da tarde de segunda-feira, 5 de dezembro, reuniu pais de pacientes, médicos e profissionais da área de saúde. Nesta terça-feira, 06 de dezembro, às 11 horas, os integrantes do Conselho Municipal de Saúde, principal órgão consultivo e deliberativo da área no município, realizaram um manifesto em apoio à instituição. A proposta dos conselheiros é mobilizar a população na discussão, além, é claro, das pessoas diretamente envolvidas com o hospital. O presidente do Sindicato da Saúde, Lorival Pisetta, diz que o Governo do Estado não está fazendo a parte que lhe cabe.
– Os repasses não acontecem no prazo legal e nem na quantia necessária para que a instituição possa se manter – explica.
Cerca de 11 mil crianças passam todos os meses pelo hospital. No começo do ano, o hospital já havia paralisado o atendimento eletivo por uma semana. Há dois anos, o governo do Estado vem atrasando os repasses.
O Infantil também anunciou o fechamento do pronto-socorro a partir da próxima quinta-feira. Nesta segunda, o hospital suspendeu as novas internações – só será mantido o atendimento a quem já estiver internado – e o atendimento eletivo, ou seja, as consultas, exames e cirurgias marcadas com antecedência.
O ofício sobre as paralisações nos atendimentos também informa que o Infantil encerraria a agenda de disponibilidade para as internações via Central de Regulações.
A Central é um serviço mantido pelo governo do Estado que permite uma visão ampla dos leitos em todas as instituições da região. Por meio da regulação, um paciente pode ser transferido para um setor de referência ou para uma unidade onde haja vaga.
Débito é de R$ 16 milhões
O débito do governo estadual com a organização social responsável pela gestão do Infantil chega a R$ 16 milhões, um montante superior a duas parcelas mensais de R$ 6 milhões cada. A causa da suspensão dos atendimentos é a possibilidade de falta de medicamentos, materiais e manutenção de equipamentos por causa da recusa dos fornecedores, com créditos a receber.
– Rogamos à Secretaria Estadual de Saúde e à Secretaria Municipal de Saúde para que tomem as providências necessárias para que as crianças e adolescentes tenham acesso aos serviços do SUS nos demais estabelecimentos da rede pública da cidade – diz o documento produzido pela direção do Infantil.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que um valor ainda a ser definido deve ser repassado ao hospital na primeira quinzena de dezembro e que, nos últimos dias, disponibilizou R$ 4 milhões à organização social. Assim que definir o valor do pagamento, o governo do Estado promete informar o hospital e espera a retomada dos trabalhos.
Mãe espera pelo fim do impasse
A mãe de uma das pacientes do Hospital, Angelita de Souza Orben, mora na zona Sul de Joinville e aguarda ansiosa pelo fim do impasse envolvendo o governo do Estado e o Hospital Infantil. A filha mais nova dela, de dois anos e cinco meses, foi submetida a uma cirurgia no começo deste ano por causa de um problema congênito no aparelho auditivo. A segunda operação, necessária para concluir o tratamento da menina, está marcada para o dia 19 de dezembro.
Na segunda-feira, Angelita recebeu um telefonema do setor de marcação de exames e ouviu que, por enquanto, os exames pré-operatórios da menina foram suspensos. Ela foi orientada a acompanhar pela imprensa e aguardar o desfecho do impasse.
– O caso dela, graças a Deus, pode esperar. Se houver como fazer a cirurgia, a gente até poderia providenciar os exames. Mas, por enquanto, não temos o que fazer a não ser aguardar e se manifestar – disse a mãe, que fez questão de participar de um grupo em defesa do Hospital Infantil nas redes sociais. Além da filha, de dois anos e meio, ela também tem um menino de três anos e meio, que está na fila da otorrinolaringologia há dois anos.
Protesto em forma de abraço reúne 250 pessoas
Durante 30 minutos, uma corrente formada por braços de mães, pais, crianças e profissionais da saúde circundaram o prédio do Hospital Infantil na noite de segunda. Foi uma forma de demonstrar a preocupação com a instituição, que é referência para moradores de toda a região Norte de Santa Catarina.
Ela foi idealizada por Caroline Carvalho da Silva, 22 anos. A jovem, mãe de um menino e uma menina de um ano e 11 meses que dependem do hospital – o menino está com pneumonia e a menina, atresia de conduto e microtia – marcou uma tomografia para o filho para a próxima segunda-feira, e teme que ela não aconteça se o débito não for quitado até o início da próxima semana.
– Conversei com mães de crianças que estão no hospital agora, ou acabaram de usar, e os médicos me ligaram porque também queriam participar da manifestação – conta Caroline.
O corpo clínico do Hospital Infantil está preocupado com a possibilidade de cancelar atendimentos. Segundo a hematologista pediátrica Deli Araújo, os médicos entendem que boa parte do atendimento prestado ali não pode ser substituída por postos de atendimentos municipais, mesmo que temporariamente.
– Será uma grande perda porque aqui temos especialidades com alto grau de complexidade, que não há em nenhum outro lugar de Santa Catarina, como a hemodiálise em crianças – afirma Deli. – A rede municipal não está preparada para recebê-los.
Fonte: A notícia