Um dia depois de a Justiça determinar que os serviços de urgência e emergência do Hospital São José de Criciúma, no Sul catarinense, voltassem a atender, a unidade esclareceu nesta segunda-feira, 12 de dezembro, que continua recebendo casos graves e também quimioterapia, radioterapia e hemodiálise. No sábado, 10 de dezembro, a direção da unidade anunciou a suspensão de todos os atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o hospital, as atividades foram suspensas após os funcionários paralisarem os serviços devido ao atraso de salários. Desde o dia 24 de novembro, o hospital só atende os casos considerados urgentes, segundo a RBS TV.
“Em nenhum momento, o hospital negou atendimento nos casos de urgência e emergência. É importante que isso fique registrado. O hospital reduziu toda sua estrutura porque ele não tem condição de ficar prestando um serviço a fim de colocar em risco o paciente. Não é só o trabalhador, não é só o médico, existe uma cadeia de insumos que precisam ser asseguradas na instituição para que o serviço possa ser realizado“, explicou o assessor jurídico Paulo Henrique Góes.
Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Criciúma e Região (Sindisaúde) afirmou que os servidores respeitam a lei de greve e mantêm “100% do efetivo nos setores críticos, UTI e Pronto Socorro e 30% nos demais setores“.
O hospital de Criciúma é o maior do Sul catarinense e a suspensão dos atendimentos impacta na demanda de outras unidades da região, sobretudo o hospital de Içara.
“A decisão foi suspender o atendimento da entrada de pacientes e com isso a gente poder, com esse quantitativo, atender a quem já está na instituição“, disse o diretor técnico do hospital Raphael Farias.
Hospital, prefeitura e estado ainda não chegaram a um acordo. Embora o hospital informe uma dívida de R$ 27 milhões, o governo do estado não reconhece esse valor. Conforme a RBS TV, não há prazo para solução do problema.
“A dificuldade é ampla, não é só ter medicamentos, é ter o corpo de enfermagem e os médicos que também estão em atraso, embora ainda estejam colaborando, mas eu não sei até quando eles vão conseguir aguentar, até quando os fornecedores vão nos fornecer os medicamentos. Tudo isso, é um grande ponto de interrogação“, disse a diretora geral do Líbera Mezzari.
O prefeito de Criciúma, Márcio Búrigo, afirmou que “ainda existem algumas divergências no que diz respeito ao acerto de contas entre as Administrações Municipal e Estadual e o Hospital São José. Nosso trabalho é incansável no sentido de resolver este impasse de forma transparente”.
A Secretaria de Estado da Saúde afirmou em nota que fez pagamento a mais para o hospital. “Desde o ano de 2011, o Estado de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), repassou ao ao Hospital São José, através do Fundo Municipal de Saúde de Criciúma, R$ 35.756.092,71 em pagamentos administrativos e R$ 15.192.575,72 em sequestros judiciais ocorridos nos anos de 2015 e 2016, totalizando o valor de R$ 50.948.668,43. Porém, no mesmo período, de acordo com levantamento realizado pela Gerência de Contratualização dos Serviços do SUS da SES, a instituição deveria ter recebido tão-somente o valor de R$ 46.741.581,92 referentes à produção acima do teto contratado e a incentivos hospitalares“.
Atraso de repasses
Os funcionários entraram em greve após terem recebido 60% do salário de novembro. Na terça (6), o estado anunciou liberação de recursos, mas o défice nas contas da instituição, que depende tanto do estado como do município, ainda não fechou, segundo a unidade.
Na quarta, 7 de dezembro, a Secretaria de Estado de Saúde do estado repassou quase R$ 2 milhões para a conta do Fundo Municipal de Saúde. Esses valores são referentes a serviços de oncologia prestados nos últimos seis meses.
Superlotação nos hospitais da região
O documento divulgado neste sábado pelo Hospital São José orienta os moradores a procurarem atendimento em outras unidades de saúde da região.
No entanto, desde que as atividades do Hospital São José foram parcialmente suspensas, os hospitais e maternidades de outras cidades do Sul de Santa Catarina estão enfrentando problemas com superlotação.
Fonte: G1