“Teve gente que quando me viu aqui me perguntou o que eu estava fazendo na sala de aula com essa idade. Respondi que quando virem meu nome na lista de aprovados eles vão saber. ” A declaração, em forma de desabafo é da técnica em enfermagem Raquel Medeiros Alves.
Do alto dos seus 57 anos ela prova que nunca é tarde para sonhar. E sonha alto: quer fazer Medicina. Para isso vai fazer o Enem 2016, que acontece nos dias 5 e 6 de novembro.
Mãe de cinco filhos, ela conta que viu o mais novo morrer aos 13 anos em 2013, por causa de um problema de coração, a transposição dos grandes vasos. Desde então ela sonha em ser cardiologista para ajudar a encontrar a cura da doença.
“A médica que tratou do meu filho me incentivou e disse que se eu passar vai ser a minha professora. Quero que o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) seja sobre essa doença”, diz Raquel.
Volta aos estudos
Com os filhos criados, ela resolveu se dedicar aos estudos, fez técnico em Libras, enfermagem e trabalhou nesta última área à noite. Resolveu deixar o emprego para se dedicar à prova.
Aluna do cursinho do Projeto Universidade Para Todos (PUPT), Raquel conta que aprende até com quem a desestimula e também divide o seu tempo com o cuidado com a mãe, de 83 anos e que sofre da doença de Alzheimer.
No cursinho, nem sempre é fácil fazer amizade com os mais novos, mas ela garante que não falta atenção dos professores. “Eles fazem questão de que a gente aprenda e por isso até mudam de estratégia para explicar a matéria”, conta.
Motivada a estudar após depressão
Colega de sala de Raquel, Euliene Aparecida Vieira Vaz, de 47 anos, viu nos estudos uma chance de vencer a depressão que a acometeu depois que o filho dela passou em um concurso para a Marinha e foi morar no Mato Grosso do Sul.
Ela resolveu fazer o Enem de 2012 e ganhou uma bolsa para um curso técnico em controle ambiental em uma instituição particular. Depois de concluir o curso, ela fez mais uma vez a prova do Enem. E aí veio o que Euliene considera uma grande vitória.
“Depois de 25 anos longe da escola eu passei na primeira fase da Ufes e isso me estimulou ainda mais”.
Agora, candidata a uma vaga no curso de Psicologia da Ufes, ela conta que a rotina nem sempre é fácil. “Me dizem que eu sou maluca. Acordo, cuido da casa, boto as minhas filhas mais novas para ir para a escola e depois venho para cá. Moro perto de Serra-Sede e o cursinho é em Goiabeiras. Venho em pé no ônibus, mas isso não me faz desistir”, conta.
Euliene já se diz apaixonada pela futura profissão. E não vê a hora de ver o nome na lista dos aprovados.
“Eu sei que, se não for esse ano, vai ser o ano que vem, ou no outro. O importante é não desistir. Psicologia? Bem, eu nasci para isso, para ouvir as pessoas e ver os dois lados das coisas na vida”, comenta empolgada a candidata, que diz já se ver trabalhando em uma clínica como psicóloga.
Ansiedade
Se é verdade que Raquel e Euliene são mais “experientes” do que seus colegas mais novos que vão fazer a prova, uma coisa elas têm em comum: a ansiedade é a mesma.
“Eu estou ansiosa, mas eu peço a Deus na oração para me acalmar”, completa Euliene. Já Raquel prefere caminhar na rua ou na praia para “limpar a mente”.
Fonte: G1