O excesso de trabalho, os plantões e procedimentos durante a noite e a madrugada, o excesso de responsabilidade e a falta de infraestrutura em alguns locais de trabalho torna a vida de grande parte dos médicos extremamente estressante e corrida. Uma pesquisa americana do Medscape Physician Lifestyle aponta que 54,4% dos médicos sofrem com pelo menos um sintoma de burnout.
Burnout é a síndrome de alto índice de estresse, que atinge o profissional física e emocionalmente. Entre os sintomas, estão dores musculares e de cabeça, fadiga, dificuldade de concentração, perda da iniciativa, alterações de humor e de memória, além de distúrbios do sono. Vania Castanheira, Coach Médico, de Saúde e Bem Estar, explica que, para evitar o estresse e se manter saudável, é preciso cuidar de sí em três esferas: física, emocional e mental.
Ela explica que as pessoas costumam procurar o serviço depois de tentar ter uma vida mais saudável sem sucesso. “É comum meus clientes dizerem que não têm tempo, mas é importante entender que não existe falta de tempo: existe a falta de organização desse tempo”, garante a coach portuguesa.
De acordo com Vânia, é comum que profissionais que cuidam de outras pessoas esqueçam de si: “Deveria ser como as instruções do voo de avião: primeiramente você tem que colocar a máscara em você, antes de colocar na pessoa que está do lado, mesmo que seja um filho pequeno”.
Praticar a autoconsciência
O primeiro passo para construir uma vida mais saudável e menos estressante é praticar a autoconsciência. O excesso de atividades costuma deixar as pessoas em um ritmo acelerado, mas é fundamental entender o que está acontecendo consigo mesmo – seja física, mental ou emocionalmente.
A coach sugere que os médicos que queiram mudar os hábitos reservem pelo menos um momento do dia para ficar quieto durante cinco minutos, relaxar e respirar profundamente. A ideia é que o profissional consiga desacelerar, se ouvir e entender as necessidades do corpo.
O ideal é incluir este hábito na rotina. Pode ser feito logo ao acordar, no intervalo do almoço ou entre consultas.
Organizar o tempo
É fundamental ter uma agenda ou alguma ferramenta para organizar o dia. A ideia é criar um cronograma todos os dias, separando tempo para o trabalho, para dormir, fazer refeições e outras atividades importantes. “Mesmo fazendo longos plantões, é possível criar uma estrutura para rotina. Pare cinco minutinhos antes de dormir ou quando acordar para organizar a agenda do dia e reservar pequenos momentos para cuidar de si”, defende a coach.
Para ajudar a cumprir o planejado, o médico pode usar alarmes, aplicativos de celular ou até recadinhos em papel – o que funcionar.
Criar hábitos
A coach explica porque é tão difícil fazer mudanças: “Tudo o que fazemos são hábitos que criamos – caminhos neurológicos em nosso cérebro. As pessoas se habituam a seguir o mesmo padrão. Quando queremos fazer alguma mudança na nossa vida, precisamos criar novos hábitos – e isso não acontece do dia para a noite”.
Há estudos que apontam que é necessário uma quantidade específica de dias para criar um novo hábito, mas varia de pessoa para pessoa. A coach sugere que, ao mesmo tempo em que é preciso levar a mudança de hábito a sério e usar ferramentas como agenda ou lembretes de celular ajude, é importante cuidar para que esse projeto não seja mais “um peso na vida”. “É importante focar no que motiva, o porque de estar fazendo está mudança, encarar os novos hábitos como um prazer”, aconselha.
Ter paciência e ser persistente
Depois de anos fazendo certas atividades da mesma maneira, não será de uma hora para outra que um hábito será mudado, alerta Vânia. De acordo com a coach, a melhor maneira é ir aos poucos. “Se a pessoa quer diminuir o consumo de açúcar, ela não deve deixar de comer sobremesa, mas trocar por algo mais saudável, com menos açúcar”, exemplifica.
Ela explica que, quando fazemos algo exaustivamente e de maneira forçada, a tendência é não durar: “Mudanças drásticas e forçadas não são consistentes, costumam ser como dietas, com início, meio e fim. Fazendo alterações aos poucos, as mudanças vão sendo interiorizadas e passam a ser automáticas, como andar de bicicleta ou dirigir”.
Dar exemplo
A coach também lembra, que a melhor forma de ajudar os outros é dando exemplo. “O médico é visto como um herói, como um modelo. Se ele não cuidar de si e não for saudável, vai ser mais difícil ajudar os outros – sejam pacientes, sejam familiares”.
Fonte: Simers