A estrutura precária, insegurança, sobrecarga de trabalho e atraso nos salários – a situação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil é suficiente para assustar muitas pessoas. O senso comum pode pensar que os médicos querem deixar o serviço público, porém, muitos médicos experientes, com mais de 20 anos de profissão, se dedicam aos cuidados básicos e seguem no SUS por opção.
Médico do Sistema Único de Saúde desde 1986, o pediatra porto-alegrense Fábio Gatti, 59 anos, trabalha com dedicação exclusiva no posto de saúde do bairro Bom Jesus. Lá, a equipe atende, em média, 120 crianças diariamente, de Porto Alegre, Viamão e Alvorada. O médico, formado pela Universidade do Rio Grande do Sul, sonhava ser ginecologista, mas trabalhando com crianças em postos de saúde, acabou se apaixonando pela pediatria. “Eu gosto muito de criança e é bem tranquilo trabalhar com elas”, diz Gatti.
Na unidade Bom Jesus, os pequenos pacientes costumam dar entrada com problemas respiratórios ou gastroenterites, procedimentos mais simples de lidar. Ainda assim, alguns desafios, como a falta de recursos para casos mais complexos, aparecem no dia a dia de Gatti. “Às vezes, podemos levar até 72 horas para encontrar uma internação para uma criança”, conta.
Também atendendo na unidade da Bom Jesus, o médico de família Hermes Cattani comenta que a união da comunidade e o vínculo entre pacientes e médicos é a parte mais bonita do trabalho que mantém há 30 anos na região. Ele já presenciou moradores doando tijolos e mão de obra para ampliar e pintar as salas do posto, pessoas que costuram cortinas, que montam presépios no Natal e até cozinham bolo para os profissionais.
“Passo todas as tardes aqui há mais de 30 anos. Me considero privilegiado por trabalhar em um local assim. As pessoas muitas vezes vêm até aqui para conversar, por doenças que atingem a sua alma, por que elas depositam na gente a confiança e sabem que vamos ajudar”, afirma.
Fonte: Simers