Uma doença que pode passar despercebida por muitos anos nas pessoas adultas é capaz de causar problemas sérios ao bebê em formação dentro do útero. A sífilis é silenciosa, mas merece bastante atenção – especialmente porque o número de infectados vem crescendo no Brasil. De 2014 a 2015, a doença teve aumento de 20,9% nas gestantes e de 19% nos casos congênitos (bebês que já nascem infectados).
“Os casos subiram em número significativo. Estamos tratando o problema como epidemia até para que resultados de redução sejam mais expressivos possíveis”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros. “Os recursos estão disponíveis. É preciso que as pessoas se submetam aos testes e aos tratamentos”, disse.
A população deve estar atenta aos sintomas da sífilis para buscar ajuda médica. Se não tratada durante a gravidez, a infecção pode causar aborto, cegueira, surdez, deficiência mental e outras malformações fetais. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, os estados com maior número de notificações de casos de sífilis são Rio Grande do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Sergipe, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Trata-se de uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum. A principal forma de transmissão é por via sexual (relação sexual sem camisinha), mas também acontece pela transfusão de sangue e durante a gestação (da mãe para o bebê).
Os sintomas começam, em média, de 3 a 4 semanas após a pessoa ser infectada pela bactéria. Se não for tratada, a doença evolui por suas diversas fases e pode levar a lesões cardíacas, cerebrais, e até mesmo à morte.
Na fase primária, aparecem feridas abertas no local da infecção (normalmente boca, vagina, pênis, ânus. Raramente, pode surgir também em outras partes do corpo, como os dedos). Essas lesões não sangram e não doem. É por isso que muitos doentes não se dão conta da gravidade do problema e não desconfiam que estão infectados. As feridas somem em até 12 semanas, o que contribui para a pessoa pensar que está bem.
Na fase secundária, surgem erupções cutâneas nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. Elas duram algumas semanas. Durante esse período, é comum apresentar febre, perda de apetite, aftas e cansaço. Em seguida vem a fase latente, sem sintomas – que pode perdurar de algumas semanas até muitos anos. Depois dela, chega a fase terciária da doença, época em que podem aparecer os maiores problemas, que afetam o cérebro e o coração e são capazes de levar à morte.
Bebês que são infectados durante a gravidez podem ir à óbito antes do nascimento ou apresentar diferentes malformações fetais – inclusive a microcefalia.
O diagnóstico da sífilis pode ser feito por meio de testes rápidos, disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Quem está planejando a gravidez, deve fazer o exame antes, para se certificar de que não tem a doença. No caso de gestantes inesperada, é preciso realizar o teste já na primeira consulta do pré-natal (no primeiro trimestre), para tratar o quanto antes e minimizar os riscos ao bebê.
O tratamento mais comum é feito com penicilina, um antibiótico por via injetável. A prescrição pode ser de uma a três doses, a depender da fase em que a doença se encontra, conforme explica o ginecologista e obstetra Ricardo Luba (SP).
É importantíssimo manter relações sexuais com preservativo. Mulheres que estão planejando uma gestação devem fazer o exame para verificar se são portadoras da bactéria antes de engravidar. Durante o primeiro trimestre da gravidez, o Ministério da Saúde recomenda que a mãe e o pai façam o teste. Alguns médicos, para ter uma certeza ainda maior, repetem o teste nos três trimestres da gestação.
“O aumento de casos de sífilis é relevante e preocupante. Isso mostra a realidade da saúde pública no Brasil. Também revela que o comportamento sexual mudou: com a liberação sexual da nova geração, muitas as pessoas estão perdendo o controle e não têm usado camisinha. A informação está em todo lugar, mas falta conscientização. A sífilis estava praticamente erradicada, e agora voltou”, comenta Luba.
Fonte: Revista Crescer