A internet revolucionou o acesso à informação, mas para a saúde isso pode ser um problema. Basta uma dor qualquer para aquela consulta básica na rede. Quem nunca? Mas, para muitos, a coisa não para por aí. A pesquisa inofensiva avança para a busca por remédios e termina na automedicação. Os riscos para a saúde são vários, alertam os médicos. Erros de dosagem ou de medicação podem agravar o problema ou provocar outros piores.
“O diagnóstico em medicina é um ato complexo que vai para além do reconhecimento de sinais e sintomas”, alerta Emmanuel Fortes, 3º vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina).
Cerca de 35% da população brasileira se automedica, segundo um estudo publicado em 2015 pela Revista de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). Fortes reconhece a importância da internet, mas adverte para os cuidados necessários, principalmente quando o assunto em questão é o tratamento de doenças. “É uma ferramenta importante, mas o conteúdo que veicula deve ser tratado como mera informação”.
Uso irracional
O mesmo estudo chama a atenção para os riscos do uso irracional de medicamentos. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) respaldam a pesquisa da USP: mais de 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados e vendidos inadequadamente – e metade dos pacientes os utiliza também de forma incorreta.
O 3º vice-presidente do CFM compara a internet aos livros que antigamente eram destinados ao público leigo. “Eram orientações para o reconhecimento de sinais de adoecimento e recomendações para a procura do médico. Essa nova ferramenta deve ser tratada do mesmo modo”.
Ele explica que todo médico estabelece primeiro uma hipótese diagnóstica e depois elimina patologias relacionadas a partir de um diagnóstico diferencial (método sistemático usado para identificar doenças). O resultado vem só depois disso. “A certeza, em muitos dos casos, depende de exames complementares”, ressalta Fortes. Ou seja, não dá para fazer isso pela internet, certo?
Ranking
Segundo o CFM, lideram o ranking de automedicação, os analgésicos, anti-inflamatórios, antiácidos e antiespasmódicos, mas muitos outros são consumidos de forma equivocada. O conselho informa ainda que outras práticas, também perigosas, como consultas por e-mails, aplicativos e mídias sociais são proibidas. “Devem ser usados depois da consulta presencial apenas para tirar dúvidas com o médico”, orienta o 3º vice-presidente do CFM.
Profissionais reclamam, ainda, que as buscas na internet muitas vezes são levadas às consultas e prejudicam o diagnóstico. “Para descobrir uma doença é preciso examinar o paciente e ouvir suas queixas”, afirma a médica Andrea Santos.
Fonte: Metro Jornal