A obesidade infantil é considerada atualmente um dos maiores problemas de saúde pública do Brasil, superando a desnutrição. Estima-se que hoje uma em cada três crianças brasileiras apresentem sobrepeso.
A organização Mundial de Saúde (OMS) já disparou o alerta vermelho da obesidade infantil ao redor do mundo, principalmente em países emergentes, como o Brasil. Segundo a organização, a obesidade infantil atingiu nos últimos anos níveis preocupantes, ameaçando a saúde das crianças e reduzindo a estimativa de vida.
“Pela primeira vez na história estima-se que os filhos poderão ter uma longevidade menor do que seus pais. E um dos principais fatores para isso pode estar na alimentação inadequada e no excesso de peso”, afirma o especialista em obesidade, cirurgião bariátrico e presidente eleito para gestão 2017-2018 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini.
Para se ter uma ideia, em 2014 o número de crianças obesas em todo o mundo era de 41 milhões, 10 milhões a mais do que no início da década de 90. Estes números são preocupantes na visão da OMS que alerta para a ineficácia dos programas para frear a epidemia que se tronou a obesidade infantil.
Mais políticas públicas – O próprio governo federal reconhece que é preciso conter o avanço da obesidade. Recentemente, em discurso no Seminário “Desafios para Saúde no Brasil”, realizado no último dia 15 de agosto, em Pernambuco, o ministro da Saúde, Ricardo Barros disse que é preciso ensinar as pessoas a comer bem para evitar enormes demandas para o sistema de saúde no futuro.
“Sabemos que melhor do que ser bem atendido no posto de saúde é não precisar ir ao posto de saúde. As pessoas precisam cuidar bem da sua saúde, pois a obesidade e o sedentarismo são grandes problemas de comportamento, custam caro ao sistema e são, muitas vezes, decisões pessoais. Temos que educar as pessoas para evitar este problema”, disse Ricardo Barros.
O ministro afirmou que a obesidade está em 18,9% dos brasileiros e o sobrepeso em 53%. Barros lamentou pelos atuais programas de alimentação do País. “Baixamos uma portaria de alimentação saudável. Se queremos pessoas saudáveis precisamos alimentá-las adequadamente e o governo lamentavelmente patrocina uma alimentação inadequada com seus próprios programas de cesta básica, restaurante popular e merenda escolar e isso precisa ser solucionado”, ressaltou Barros.
Vilões da obesidade – Para o médico Caetano Marchesini o sedentarismo e a alimentação inadequada são as principais causas do aumento da obesidade infantil.
“As crianças precisam gastar calorias, mesmo com o metabolismo mais acelerado. No entanto, vemos cada vez menos brincadeiras ao ar livre e cada vez mais incentivo para atividades relacionadas ao videogame, tablets e televisão“, relata o especialista em obesidade.
Segundo ele, pesquisas apontam que filhos de mães ativas têm 60% mais chances de praticar alguma atividade física. Quando ambos os pais mantêm uma vida ativa, o número sobre para 80%. “Ou seja, se os pais querem que os seus filhos pratiquem atividade físicas regularmente, o primeiro passo é os próprios pais praticarem atividade física”, enfatiza Marchesini.
Para ele, outro grande perigo da obesidade está em não colocar limites na alimentação dos filhos. “Pais que não impõem limites na alimentação dos filhos, permitindo alimentos calóricos e guloseimas a qualquer hora, estão estimulando um comportamento nocivo. O ideal é evitar lanches fora de hora e estipular apenas um dia por semana para as guloseimas”, enfatiza.
Uma pesquisa recente realizada pelo IBGE demonstra que 32,3% das crianças com menos de dois anos de idade bebem refrigerantes ou sucos artificiais regularmente.
Para o ano de 2017 a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) pretende encampar debates em todo o país para reduzir o avanço da obesidade infantil. Atualmente são realizadas cerca de 70 mil cirurgias bariátricas todos os anos no Brasil para tratar a obesidade. “No momento, o Brasil não possui médicos para atender todos os pacientes que sofrem dessa epidemia que se tornou a obesidade no Brasil e no mundo”, finalizou o cirurgião Caetano Marchesini.
Fonte: Uol