Um paciente passou o sétimo dia consecutivo sentado em uma cadeira da emergência do Hospital Geral de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que é uma das unidades federais que disponibilizaram 135 leitos de retaguarda para liberar vagas nas unidades da rede municipal durante a Olimpíada. Portador de leucemia, o motorista Gilberto Brandão, de 53 anos, precisa ser internado para tratar de uma infecção, porém sofre com a falta de um quarto.
Gilberto deu entrada na unidade de saúde na segunda-feira da semana passada. Com a medicação pendurada em mãos, o paciente ainda não tem uma previsão de quando terá um lugar vago. Enquanto isso, ele vai passar mais uma noite sem ter onde deitar, em meio a pelo menos dez outros doentes na mesma situação.
— O médico daqui é muito bom, não posso ir para outro lugar. Mas eu estou desesperado, só queria uma cama para deitar. O povo tem suas cirurgias canceladas, o tratamento negligenciado, enquanto o atendimento é reservado para quem veio por causa das Olimpíadas — apelou Gilberto.
Embora o EXTRA tenho feito contato com a direção do hospital por meio da assessoria de imprensa, não houve resposta da unidade. O motorista e os outros pacientes que não têm leitos à disposição seguem aguardando na fila da emergência “superlotada”, como definem os parentes.
— O senhor que está do lado dele passa pela mesma situação e há outros doentes sentados há dias. É uma desumanidade, o lugar está lotado. Minha mãe quis comprar uma cama de solteiro ou um colchão inflável, mas eles não permitiram, alegando que ele poderia pegar uma infecção hospitalar — afirmou a prima de Gilberto, Ana Paula.
Hospitais federais reservam vagas para a Olimpíada duas semanas antes do evento
Quando faltavam 15 dias para o início da Olimpíada, os hospitais federais de Bonsucesso, Andaraí e Lagoa já estavam com leitos bloqueados. Segundo Julio Noronha, diretor jurídico do Sindicato dos Médicos e chefe da emergência do HFB, cirurgias foram desmarcadas e pacientes deixam de subir da emergência para as clínicas, embora haja leitos vazios.
“É loucura essa antecedência. O Eduardo Paes só esqueceu de baixar um decreto para as pessoas não ficarem doentes”, criticou.
O planejamento da Saúde para a Rio 2016 prevê que os hospitais federais disponibilizem 135 leitos de retaguarda para liberar vagas nas unidades da rede municipal durante o evento.
O deputado estadual Carlos Minc (sem partido) havia recebido denúncias de funcionários do hospital de Bonsucesso e enviou um ofício pedindo que o Ministério Público apure a antecedência do bloqueio:
“A Saúde é uma desgraça e, bem antes dos Jogos, começam a diminuir a capacidade de atendimento à população? Não tem fundamento!”.