Os residentes do Departamento de Cirurgia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo paralisaram as atividades no Hospital Central do bairro Santa Cecília, região central da capital paulista, desde segunda-feira 22 de agosto, em protesto contra a interrupção das internações cirúrgicas eletivas (aquelas que não entram pelo pronto-socorro) há mais de 30 dias, o que prejudica os pacientes que aguardam por seus tratamentos. A decisão foi tomada em assembleia realizada na noite de quinta-feira,18 de agosto.
Porém, eles se comprometeram a manter o atendimento no pronto-socorro e UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com a equipe completa.
Hoje, eles divulgaram uma nota oficial na qual esclarecem as razões da paralisação e cobram solução para os problemas dos pacientes oncológicos, que atualmente somam mais de 300 (leia a íntegra abaixo).
Sofrendo com escassez de recursos, a irmandade não está conseguindo suprir os estoques de medicamentos e equipamentos necessários aos procedimentos cirúrgicos. Por essa razão, as internações foram suspensas há cerca de dois meses e não há previsão de retorno. Calcula-se que o Hospital Central realize cerca de 900 procedimentos desse tipo por mês.
Na carta, os residentes informam que, por ordens superiores, a paralisação também se estendeu aos serviços que contemplam residência médica nas unidades de Franco da Rocha, São Luiz Gonzaga e Hospital Geral de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Trata-se de mais um capítulo na crise que assola há mais de dois anos a entidade filantrópica, que teve seu ápice no ano passado, quando cerca de 1.500 profissionais foram demitidos.
Leia a íntegra da carta dos residentes:
“PARALISAÇÃO DOS MÉDICOS RESIDENTES DO DEPARTAMENTO DE CIRURGIA E CIRURGIA PEDIÁTRICA DO DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA DA IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO (ISCMSP)
NOTA OFICIAL
Os residentes do Departamento de Cirurgia e de Cirurgia Pediátrica do Departamento de Pediatria da ISCMSP gostariam de prestar esclarecimentos acerca da paralisação iniciada nesta segunda-feira, dia 22 de agosto de 2016.
Há praticamente dois meses, pacientes vêm sofrendo com a interrupção das internações cirúrgicas eletivas no Hospital Central, sem previsão ou perspectiva de quando e onde poderão ser operados. Os ambulatórios, porém, não tiveram redução proporcional no atendimento a casos novos.
A ausência de cirurgias eletivas com a manutenção da porta aberta para casos novos compromete sobremaneira o tratamento dos pacientes que dependem desses procedimentos e os aglomera em filas cada vez maiores. Desses doentes, os portadores de cânceres são, sem dúvida, os mais prejudicados porque necessitam de resolução em tempo hábil. A manutenção desse sistema, além de desrespeitar o paciente e sua esperança de tratamento, gera constrangimentos legais e morais para o médico residente de cirurgia responsável pelos atendimentos e prejudica substancialmente sua formação.
Os residentes já haviam se manifestado de diversas maneiras internamente, inclusive emitindo uma carta de solicitação de suspensão de casos novos no ambulatório. Houve redução parcial do número total de atendimentos, mas com manutenção de casos novos. Propusemos no dia 17 de agosto a paralisação dos médicos residentes restritamente nas atividades ambulatoriais do Hospital Central. Contudo, isso nos foi vetado por instâncias superiores da instituição de forma que as atividades e atendimentos eletivos que contemplem os residentes de cirurgia da Santa Casa de São Paulo nos hospitais associados (Hospital São Luiz Gonzaga-Jaçanã, Hospital Geral de Guarulhos e Hospital Estadual de Franco da Rocha) estarão suspensas durante o período de paralisação.
Entendemos a crise financeira enfrentada pela instituição nesse momento e temos sido bastante colaborativos durante todo o processo. Chegar a esse extremo demonstra o total comprometimento que temos com os pacientes e com a irmandade da qual fazemos parte.
Temos mais de trezentos pacientes com câncer, incluindo crianças, e outras centenas de doentes com moléstias benignas (não menos graves, como aneurismas cerebrais, deformidades físicas e outros males que comprometem a qualidade de vida) aguardando em filas sem previsão de tratamento cirúrgico.
Nosso movimento está constitucionalmente assegurado pelo artigo 9º da Constituição Federal e judicialmente respaldado em lei própria; e profissionalmente amparado pelo Código de Ética Médica e por pareceres do Conselho Federal de Medicina (CFM) e conselhos regionais. Em nenhum momento, essa manifestação visa à diminuição da carga horária ou melhora da remuneração. Reivindica condições para o tratamento adequado e justo dos pacientes que aguardam procedimento cirúrgico em nossa instituição e, consequentemente, a formação satisfatória dos médicos residentes de cirurgia que escolheram a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo para ser o local de aprendizado e engrandecimento profissional.
Dispomo-nos a reavaliar a situação periodicamente para, quando possível, retornarmos à normalidade das nossas atividades.
São Paulo-SP, 22 de agosto de 2016”
Fonte: Simesp