As Olimpíadas do Rio de Janeiro são consideradas o maior evento esportivo do mundo e congregam atletas de mais de 200 países. Este acontecimento é memorável, um cartão-postal do Brasil. Turistas virão conhecer o país e conhecerão um pouco do nosso povo, nossa culinária, nossas paisagens. Porém, eles também poderão sentir algumas das nossas dificuldades.
Os Jogos Olímpicos deixarão um legado de infraestrutura habitacional, aeroportuária e de transporte público. Infelizmente, deixou de se obter mais pela própria ineficiência do Estado. A Baía de Guanabara, por exemplo, dizia-se que seria despoluída, mas continua suja e será um embaraço nas provas de vela.
Mas o que a saúde tem a ver com isso? Muita coisa. Primeiramente, o esporte logo nos vem à mente quando falamos em saúde: a vitalidade está presente nos atletas, que precisam desenvolver aptidões como força, velocidade, agilidade, flexibilidade, potência, equilíbrio, capacidade de concentração e autosuperação.
Além disso, o esporte pode ser identificado com a própria vida e as ações diárias. Diversos esforços do trabalhador são atividades motoras e neurais semelhantes à prática de exercícios físicos. Pode-se dizer, sem medo de errar, que desempenhar esportes regularmente proporcionará, a qualquer pessoa, melhores condições físicas e psíquicas para a realização de qualquer obra, além de prevenir diversas doenças, como infarto e câncer.
Já a saúde do atleta é motivo de grande preocupação. O nível de rendimento exigido pelas competições atuais é muito elevado. A consequente sobrecarga do metabolismo, articulações, músculos e coração pode ter um efeito deletério em longo prazo. As cobranças de treinadores e torcedores também exigem, excessivamente, do psiquismo do atleta. O dopping é uma realidade: com a promessa de aumentar o rendimento esportivo, acaba sendo um atalho que compromete a carreira, bem como a própria saúde.
O esporte envolve a experiência estética. Como não se encantar pela beleza dos movimentos da ginástica, do salto ornamental e até de uma bela jogada de futebol, basquete ou vôlei? Porém, toda experiência estética envolve uma reflexão ética. Para os espectadores, que podem ver no humano uma máquina; para os atletas, dirigentes e treinadores, que precisam lidar com o dilema de colocar a própria saúde em risco por mais uma medalha ou mais um recorde.
Agora, volto à condição do Brasil antes e após as Olimpíadas.
Superou todas as nossas expectativas a ação despretensiosa que o Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Região (Simesul) ao colocar um outdoor entre as avenidas Washington Luiz e Antônio Carlos Comitre. Lá, estava escrito: “A tocha chama a atenção por onde passa. Talvez seja a hora de passar por nossos hospitais públicos”. Foram milhares de manifestações a respeito no Facebook, comentários dos mais apaixonados e quase mil compartilhamentos — números que evidenciam uma grande insatisfação com a situação da saúde pública, em especial quanto ao atendimento e às condições precárias em que se encontram tanto usuários e prestadores de serviço do sistema. Afinal, todos merecem ser tratados com respeito e dignidade.
A tocha olímpica chama atenção por onde passa. E, mais ainda, por aqueles que a levaram, atletas ilustres e todos os cidadãos que tiveram a emoção de acompanhá-la. É um símbolo de compreensão entre todos os povos. Em Sorocaba, provou ser (por que não?) um símbolo de cidadania.
Eduardo Luis Cruells Vieira é secretário adjunto de Finanças da FMB e presidente do Sindicato dos Médicos de Sorocaba (Simesul)
Fonte: Cruzeiro do Sul