O problema é agravado pelo uso inapropriado de antibióticos, diz o chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Alexandre Zavascki “Já temos um difícil problema com a resistência bacteriana porque algumas delas se tornaram resistentes aos antibióticos disponíveis. Sobre as pesquisas, descobertas não andam com a mesma velocidade com que a resistência bacteriana vai evoluindo. Nenhum país conseguiu a prevenção total das infecções. A resposta global de forma geral é insuficiente sobre a necessidade de novos antibióticos”, destaca Alexandre.
O uso excessivo de antibióticos não tem relação direta com as bactérias dos hospitais, aquelas responsáveis por fechar algumas alas em 2015 nos hospitais da Criança Conceição e Fêmina. “O uso exagerado de antibiótico na população fora do hospital pode comprometer outras bactérias diferentes das que causam infecções hospitalares, ressalta Zavascki. Ele ainda explica que as bactérias de dentro do hospital adquirem resistências diferentes das bactérias desenvolvidas nas pessoas que estão fora do ambiente hospitalar. “Na população há um grupo de bactérias e dentro do hospital existe outro grupo. Não tem relação de uma com a outra”.
A chamada era “pós-antibiótico” assusta porque a população usa de forma indevida o remédio e com isso ele acaba não fazendo mais o efeito desejado. Muita gente acha que antibiótico elimina viroses. Mas na verdade nem serve contra vírus – só mata bactérias. Por isso é importante cumprir a risca a receita médica. “Se o médico prescreveu o uso do medicamento por 10 dias o paciente não pode interromper o uso do remédio só porque no segundo dia se sentiu melhor. Tem que tomar até completar os 10 dias. Para a resistência bacteriana é tão prejudicial parar o tratamento antes quanto tomar o remédio inadequadamente porque pode gerar uma bactéria mais resistente”, ressalta Zavascki.
A diferença de uma bactéria para uma superbactéria como a Klebsiella (pode causar pneumonia, infecções sanguíneas, no trato urinário, em feridas cirúrgicas, enfermidades que podem evoluir para um quadro de infecção generalizada, muitas vezes, mortal), é o tratamento. Para a superbactéria as opções são menores e muitas vezes demora até encontrar a medicação adequadas, mas ela não é mais agressiva ou menos agressiva do que as outras, é só mais difícil de tratar, e é neste sentido que um estudo britânico divulgado no mêsde maio fez um alerta preocupante: mais de dez milhões de pessoas devem morrer anualmente infectadas por superbactérias até 2050.
Para a Coordenadora da Infecção Hospitalar do Conceição, Patrícia Reis Pereira tudo isso é evitável se trabalharmos com a prevenção. “A prevenção na comunidade pode ser feita com a restrição da venda de antibiótico sem receita, com o cuidado do uso inadequado na pecuária e na agricultura e no hospital através da higienização das mãos e limpeza do ambiente”, conclui Patrícia.
Fonte: Simers