No mesmo mês em que um grupo de médicos portugueses que veio fazer estágio nas unidades de saúde de Florianópolis participou de uma reportagem na Europa tecendo muitos elogios ao atendimento prestado pelo SUS na capital catarinense, a prefeitura divulga que haverá um corte de R$ 28 milhões nos recursos destinados ao setor, até o final do ano. O motivo é a crise econômica e o atraso no repasse das verbas federal e estadual. A medida é muito preocupante, e vem gerando uma série de manifestações. A pergunta é: como continuar oferecendo um serviço de qualidade à população a partir de agora? O sistema tem falhas, claro, mas as unidades de Saúde de Florianópolis mesmo assim servem de exemplo para o país e, como se viu na reportagem da revista portuguesa, para o exterior também.
O programa de residência médica oferecido pela Secretaria de Saúde de Florianópolis e os resultados da Atenção Primária no município vêm atraindo a atenção de profissionais de outros estados e de fora do País. Os médicos que vieram para cá ficaram bem impressionados, ainda, com a atuação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que contam com profissionais de pediatria, psiquiatria e nutrição, entre outros. Pois agora todo este trabalho está correndo risco. Será que não existe outra forma de fazer frente a esta crise que não seja a de cortar justamente as verbas da área da saúde?
O secretário municipal da Saúde, Carlos Daniel Moutinho Júnior, enviou ofício ao colega da Fazenda, André Bazzo, ainda no começo de maio, ressaltando sua preocupação com os cortes de verba, os quais vão acabar por comprometer os serviços e as demandas, como a entrega de medicamentos, as consultas e os exames especializados, por exemplo. A Saúde é uma pasta que merece especial atenção, visto que além de termos uma elevada folha de pagamento diante de um necessário quadro de pessoal para atender cada vez mais e melhor a população, ainda é necessário prover medicamentos, insumos, materiais para procedimentos, exames e consultas de média e alta complexidade, e até mesmo a entrega de leites especiais e de próteses bucais, escreveu o secretário.
Circula nas redes sociais, também, um manifesto assinado pela União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (Ufeco) e várias outras instituições, ressaltando que com R$ 28 milhões a menos no Fundo Municipal de Saúde, os insumos irão faltar gradualmente nos centros de saúde da Capital, UPAs e policlínicas, até que seja impossível trabalhar. A previsão não é nada otimista: as filas devem aumentar, os hospitais vão ficar cada vez mais lotados, e os profissionais da saúde serão pressionados e não terão respostas para dar à população, especialmente a mais pobre, que não tem outra opção que não seja a utilização da rede pública de saúde.
O médico de Família Ronaldo Zonta, presidente da Associação Catarinense de Medicina de Família e Comunidade, faz coro a este clamor para que sejam revertidos estes cortes previstos até o final do ano na verba do setor. Segundo ele, é preciso manter o investimento adequado em saúde e na Atenção Primária, porque já está mais do que provado que isso gera economia nos custos com internações. ¿Florianópolis é considerada modelo no atendimento em saúde no Brasil, e essas conquistas devem ser ampliadas e não podem ser perdidas, principalmente com a crise econômica, que faz crescer a demanda pelo atendimento público em saúde, e com a crescente ameaça de epidemia tripla de dengue, chikungunya e zika”, alerta.
O SUS municipal está passando por um momento grave, com cortes que, segundo os profissionais do setor, já atingem diretamente a população em relação a exames, medicamentos e contratação de pessoal. É uma pena que um serviço considerado exemplar de Florianópolis _ embora ainda esteja longe do ideal _ e que estava em franco processo de evolução, sofra este revés, comprometendo todo um trabalho que vinha sendo construído há muitos anos. Será, mesmo, que não dá para enfrentar a crise sem penalizar quem mais precisa de atendimento? Tem que haver outro caminho.
Fonte: Viviane Bevilacqua / Diário Catarinense