Levantamento do Sindicato dos Médicos aponta que a região tem 170 leitos e que seriam necessários 470 para atender as crianças. Também faltam leitos de UTI, profissionais de saúde e condições de trabalho.
Relatório realizado pelo Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina (SIMESC) junto às unidades de saúde da Grande Florianópolis revela que o atendimento pediátrico tem sido prejudicado na região por falta de leitos, recursos humanos e condições de trabalho. Somente para UTI pediátrica, há carência de SEIS leitos e 300 para a enfermaria. O levantamento foi realizado em unidades de saúde nas três esferas: municipal (unidades básicas de saúde e unidades de pronto atendimento), estadual (hospital infantil Joana de Gusmão, hospital Florianópolis e Regional Homero de Miranda Gomes) e federal (Hospital Universitário/UFSC).
“O aumento na população da grande Florianópolis não foi acompanhado da ampliação compatível dos serviços de pediatria, tanto no que se refere ao número de funcionários (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem) quanto ao número de leitos, sejam eletivos ou de UTI. Este relato procura apontar as principais dificuldades dos serviços oferecidos à população para que possamos junto com a sociedade cobrar soluções”, afirma o pediatra e 1º tesoureiro do SIMESC, Fábio Schneider.
Déficit
A portaria nº 1101/GM, de 12 de junho de 2002, do Ministério da Saúde prevê de um a três leitos de UTI pediátrica para cada grupo de dez mil habitantes. A necessidade mínima na grande Florianópolis é de 19 leitos e atualmente tem 13, sendo oito no SUS. A mesma portaria prevê de 2,5 a 3 leitos de enfermaria pediátrica para cada mil habitantes. A necessidade mínima para grande Florianópolis seria 470 leitos e atualmente tem em torno de 170, menos da metade necessária.
O levantamento do Simesc também apontou que nas UPAS norte e Sul há necessidade da contratação de mais dois pediatras para cada unidade para completar escalas. No HU/UFSC são necessários dois plantonistas para emergência, dois pediatras para ambulatório e plantonista para andar e solicitação de concurso para preenchimento de 12 vagas. No hospital Regional São José são necessários cinco plantonistas para cobertura de férias e aposentadorias e no Infantil Joana de Gusmão, a demanda é de plantonistas para emergência e cobertura de andar.
De acordo com o presidente do Simesc, Vânio Cardoso Lisboa, a situação da pediatria é delicada e as autoridades precisam voltar o olhar para esses dados “Não são apenas os atendimentos da Grande Florianópolis que ficam comprometidos, mas sim os de pacientes de todo o Estado. Vale lembrar que a ‘ambulancioterapia’ ainda é a medida tomada por muitas prefeituras que não têm mais condições de atender seus pacientes em sua região, e enviam para a capital para atendimentos. O Sindicato está à disposição para junto com as autoridades buscar soluções para este problema”, declara.
Unidades Básicas de Saúde (UBS)
A ideia inicial da atenção básica era de deixar o atendimento das crianças sob a supervisão da equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) com um médico pediatra na retaguarda. No entanto o número de especialistas teve uma redução drástica e a equipe da ESF ficou sem assistência do pediatra para casos que muitas vezes poderiam ser resolvidos com mais agilidade e que muitas vezes são postergados ou encaminhados para unidades de maior complexidade desnecessariamente. Além disso, os poucos pediatras que permaneceram na rede acabam por ter responsabilidade por um número grande de pacientes, impedindo um trabalho de qualidade. Devido a expansão geográfica de cobertura da atenção básica sem o aumento no número de profissionais muitas vezes as equipes da ESF tem o dobro do número de pacientes estipulados pelo Ministério da Saúde sob sua responsabilidade, gerando um excedente, na qual o paciente fica sem atendimento e acaba por recorrer as unidade de maior complexidade.
Unidade de Pronto Atendimento (UPAs)
O primeiro problema identificado nas UPAs é a falta de profissionais para fazer a triagem na pediatria e classificar o atendimento de acordo com a gravidade. Outra dificuldade é o número de atendimento por horas plantão, sendo que o Conselho Regional de Medicina (CRM) recomenda três por cada hora/plantão e nas UPAs são realizados aproximadamente seis por hora. O número pequeno de profissionais impossibilita durante muitos meses no ano o fechamento das escalas de plantão, havendo a necessidade de utilização de horas extras, que foram abolidas sem aviso adequado e transformadas em hora plantão, com valores inferiores ao que se pagava anteriormente. A impossibilidade de fechamento da escala, pelo número reduzido de profissionais, vem proporcionando ao longo dos anos “furos” nas escalas, com horários sem atendimento de pediatria no plantão.
“A falta de um ambiente adequado de trabalho, sem segurança, possibilidade de agressão, stress, impossibilidade de alimentação e necessidades especiais, além da baixa remuneração têm sido as causas dos pedidos de exoneração nas UPAs, gerando um rodízio grande de profissionais e a impossibilidade de manutenção da escala e organização do serviço”, acrescenta a pediatra, 1ª secretária do SIMESC e integrante da Comissão de Saúde de Florianópolis, Vanessa Baulé.
Emergências hospitalares
O maior problema identificado é o número insuficiente de profissionais. Nas escalas de plantão do hospital Infantil Joana de Gusmão e hospital Regional de São José não há “furos”, porém o número de profissionais não é suficiente para suprir a demanda o que acarreta em longas esperas dos pacientes por atendimento, além de stress dos profissionais. Na escala do HU/UFSC também não há horário de escala a ser preenchido, porém há plantões com um médico pediatra e um ou dois residentes, quando o ideal seriam dois médicos pediatras.
“Esta situação, além de gerar uma demanda maior para o plantonista também se reflete no aprendizado, pois o mesmo acaba não conseguindo orientar da maneira mais adequada os residentes de pediatria e os estudantes de medicina”, acrescenta Fábio Schneider.
Outro problema identificado na emergência do HU é a falta de estrutura para o trabalho, que determina o fechamento de uma ou duas das três salas de atendimento em caso de chuva, pelo alagamento dos ambientes. No hospital Florianópolis, gerido por uma organização social, também se verificam problemas na escala, havendo “buracos” de até três horas em alguns dias de plantão em junho.
Enfermarias de pediatria
Na Grande Florianópolis somente o HU/UFSC e Joana de Gusmão têm enfermarias de pediatria e ambas com os mesmos problemas. O primeiro deles foi a redução do número de leitos devido à falta de profissionais em número adequado para assistir ao paciente internado. Não havendo leito na enfermaria os pacientes acabam por serem internados em leitos de observação ou nos próprios leitos da emergência. “Por este motivo a emergência do HU precisou ser fechada 16 vezes nos últimos três meses, uma vez que todas as macas de atendimentos da emergência estavam ocupadas por pacientes internados. Assim, com uma emergência fechada, o fluxo é direcionado para as outras emergências, aumentado ainda mais a demanda já intensa”, explica Fábio Schneider.
O segundo problema é a falta do plantonista de andar em boa parte do tempo, desta forma os pacientes internados ficam sob a responsabilidade do plantonista da emergência, o que inviabiliza o serviço. “Retirando o médico da emergência há uma demanda represada na própria emergência, aumentando o tempo de espera e a carga sobre o médico que vai ficar lá. E, quando há um médico somente na emergência, ele acaba por decidir fechar a mesma para atender ao paciente grave da enfermaria, gerando risco ético pra si e risco para a população que procure o referido hospital”, acrescenta o presidente do Simesc, Vânio Lisboa.
Unidade de Tratamento Intensivo (UTI)
Na grande Florianópolis há duas UTIs pediátricas, a do hospital Infantil e a da Unimed – que é uma unidade privada. A do Infantil é a referência para esta região e faltam leitos e profissionais. A nova UTI está construída, o que vai aumentar o número de leitos. “É preciso mais agilidade e vontade política para que esteja funcionando o mais breve possível. A falta de leitos de UTI hoje faz com que pacientes graves permaneçam nas enfermarias, com necessidade do médico para mantê-lo estável e supervisionar a sua evolução em condições aquém das necessárias. Isto vai gerar o ciclo anteriormente citado, uma vez que este médico muitas vezes é o plantonista da emergência”, declara Fábio Schneider.
Luta antiga
A luta por mais recursos para a saúde, inclusive para a pediatria não é de hoje. Em 2012 o Sindicato dos Médicos realizou dois “Abraços à Saúde” no hospital Infantil, cobrando abertura de leitos e contratação de profissionais.
“O que mudou depois dessa mobilização? Pouca coisa. Naquele momento falávamos em falta de leitos, falta de profissionais, falta de condições adequadas de saúde. O subfinanciamento da saúde é o vilão da estagnação das condições de saúde não só na pediatria e não só em Santa Catarina. Temos profissionais cada vez mais qualificados na área da saúde, cada vez mais empenhados em se dedicarem à profissão, mas faltam estímulos para que eles permaneçam no sistema público de saúde”, afirma o diretor de Comunicação e Imprensa do Simesc, Cyro Soncini.
Ouça o programete de rádio Momento Simesc, que o Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina fez sobre este assunto:
Fonte: Simesc