Não é novidade que a rotina de um médico é bastante corrida, entre plantões e atendimentos clínicos. Entretanto, se engana quem acha que esse cotidiano, onde a busca de algumas horas para a vida social é um objetivo nada fácil de ser alcançado, começa apenas depois de formado. O curso de medicina tem carga horária muito extensa, dificultando os futuros profissionais a conciliarem estudos da faculdade, atividades extraclasses e estágio com os momentos de lazer. Para isso, é necessário que estudantes e profissionais recém-formados comecem a organizar o tempo de forma realista para alcançarem esse equilíbrio.
Pesquisas científicas já apontaram que a sobrecarga de trabalho pode ser prejudicial. O dia a dia, não apenas do médico maduro, mas também dos mais jovens e estudantes, gira em torno de uma dura rotina, onde a grande responsabilidade sobre os pacientes, em conjunto com o excesso de demanda, contribui para o estresse. Portanto, é necessário tirar alguns momentos para relaxar e se distrair. “O aluno do curso de medicina tem uma agenda de muito trabalho, principalmente nos dois últimos semestres, quando começa o estágio supervisionado, ou seja, ele se torna um médico com supervisão. Então, esse período gera muita ansiedade e angustia nos jovens, pois passam a ter preocupação de proporcionar o melhor atendimento possível aos pacientes”, afirma o neurocirurgião e Secretário Científico da Sociedade de Neurologia do Rio Grande do Sul e diretor do curso de medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Asdrubal Falavigna. Para ajudar os universitários com este problema, a UCS tem um serviço de apoio ao aluno, que além de atender alunos dos semestres finais, procura receber aqueles que ainda estão no início do curso, preparando-os para a rotina de estudos.
Em relação a conciliar o tempo de trabalho com o período de lazer, Falavigna explica que é muito importante, tanto acadêmicos quanto médicos recém-formados, não deixarem de lado as atividades que gostam de fazer e manter a organização do tempo. “Sempre estimulamos o aluno a continuar fazendo as atividades de lazer que gosta. Isso não pode ser sacrificado. São importantes válvulas de escape da rotina. Em segundo lugar, avaliar com critérios práticos, as atividades que deseja realizar em longo prazo e distribuí-las. Não tente fazer tudo em um curto prazo, pois acaba gerando um estresse físico e mental”. O neurocirurgião também reitera que os laços de amizade são de extrema importância, assim como conhecer os próprios limites. “É sempre bom ter alguém que possamos contar as coisas, nem que essa pessoa só te escute. Por isso que os círculos de amizades precisam ser mantidos. Conhecer o teu próprio limite é essencial para o equilíbrio do tempo, saber que todos precisam de descanso e horas de lazer”, esclarece Falavigna.
A presidente do Núcleo Acadêmico do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul (NAS), Barbara Dalla Corte, estudante do 9º semestre do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, costuma fazer uma programação para equilibrar o tempo entre estagio, cadeiras da faculdade e horas de lazer. “Faço uma agenda para tentar otimizar o tempo, entre estudo e vida pessoal. Também gosto de assistir filmes, séries e ler alguns livros que não são de medicina para me distrair um pouco”, conta Bárbara.
Plantões e cursos também fazem parte da rotina da médica recém-formada, Pauline Josende. Ela trabalha como plantonista no Pronto Socorro do Hospital Tacchini e ainda trabalha 20 horas semanais na Unidade Básica de Saúde São Roque, ambos em Bento Gonçalves, além de estar fazendo curso para a residência em Caxias do Sul. Apesar da escassez de tempo livre, nas horas vagas Pauline procura fazer atividades que não estejam relacionadas com a medicina para relaxar. “É difícil equilibrar tudo, pois além do trabalho temos que estudar no tempo livre. No meu caso, tenho tentado estabelecer uma rotina de estudos e, nos momentos vagos, tento fazer algumas coisas que não estejam relacionadas ao trabalho, mas nem sempre é fácil”, conta a médica. Pauline também acredita que ter conhecimento do próprio limite de esforço é crucial para encontrar o equilíbrio e trazer benefícios a saúde. “Tentei estudar bem mais do que estudo atualmente. Percebi que estava cansada, muito estressada e vivia com sono, mas alguns colegas demoram mais para enxergar quando estão sobrecarregados e acabam ficando doentes, tanto física quanto mentalmente. É o que a gente sempre pergunta: quem cuida de quem?”, diz.
E se os que ainda estão na faculdade pedissem algumas dicas para Pauline em relação à otimização do tempo, a jovem médica entende que tudo passa pela diminuição da auto-cobrança excessiva. “Percebi que os colegas têm razão. Quanto mais se trabalha, mais se gosta de trabalhar e mais difícil é voltar a um ritmo de estudos. Acho que o mais importante de tudo é não se cobrar excessivamente” aconselha Pauline.
Fonte: Simers