A estrutura do lado de fora parece pronta. Por dentro, o mobiliário já encontra-se distribuído, contudo, as cadeiras da sala de espera ainda estão no plástico e amontoadas. A sala de observação de pacientes está montada. Assim está a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Roland Trechaud Curvo, do Pascoal Ramos, em Cuiabá, no Mato Grosso. A entrega já foi adiada diversas vezes e a população demonstra preocupação com o funcionamento da unidade de saúde.
O anseio pelo atendimento fala mais alto sempre que é preciso procurar um médico. Quando o caso é mais grave, para garantir a solução para o problema, a idosa Elenir Júlia de Proença e Silva, 62, desembolsa dinheiro na rede particular. “Se tivesse esperando ser atendida na UPA já teria morrido”, diz meio acanhada.
A mesma dinâmica teve que ser adotada por Maria do Carmo Leite Silva, 62. O marido dela sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e precisou de atendimento profissional. Há poucos metros da casa da aposentada está a UPA que ainda não foi inaugurada. “Se ela estivesse funcionando não precisaríamos levá-lo tão longe, no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), assim como para outras situações”, pontua a idosa.
No último dia 11, durante a inauguração da UTI pediátrica do PSMC, o secretário municipal de saúde, Ary Soares, declarou que a UPA do Pascoal Ramos seria entregue no mês de maio. a data anterior era no mês de abril. Contudo, a obra está atrasada há três anos e oito meses. A previsão é que a unidade fosse entregue em setembro de 2012, ano em que as obras começaram. Com 1.257 metros quadrados de área construída em um terreno de 4,5 mil metros, a obra está orçada em R$ 3,1 milhões custeados com recursos do município e do Ministério da Saúde.
A proposta é que a UPA desafogue as outras unidades de saúde como o Pronto-Socorro e as policlínicas, dentre elas, a do próprio bairro, a qual tem atendido também pessoas de bairros vizinhos ou das proximidades da região Sul, como é o caso de Eva Maria dos Santos, 37. Moradora do Pedra 90, a mulher e a filha Mônica Maria dos Santos, 13, buscaram ajuda médica depois de sentirem um mal estar e Eva não esconde a ansiedade de ver a UPA entregue e funcionando. “Vai melhorar muito para gente e para a questão da emergência também”.
Com a unidade funcionando, a população espera que a longa espera por atendimento acabe também, como aponta Tânia dos Santos, 26. A moradora do São João Del Rei teve que ir até a Policlínica do Pascoal Ramos para que os resultados dos exames do filho dela, Eduardo, 3, fossem avaliados por um profissional. “Lá no meu bairro não tem médico, então eu tive que vir até aqui”.
Depois de uma hora e meia esperando, o pequeno Eduardo foi chamado, mas apenas para ser informado que já estava na fila dos pacientes que seriam recebidos pelo pediatra. Fila essa que parecia ser grande porque, segundo o que foi repassado para Tânia, usuários da Policlínica do Coxipó também estavam na espera porque a unidade estava sem o profissional. “Eles foram direcionados para cá, vamos esperar para ver quanto tempo vai demorar ainda”.
Além da longa espera para entrar na sala do médico, a retirada de exames também foi apontada como alvo de reclamação. João Luiz Madeira, 39, conta que chegou à unidade às 14h30 para retirar um exame do irmão. Um tempo depois foi informado que a responsável por fazer a entrega já não se encontrava na Policlínica. “Me disseram que ela já foi embora, mas aqui no papel informa que a retirada pode ser feita até 16h30. Sem contar que demoraram para me dar um posicionamento sobre onde ela estaria”, disse revoltado.
Diante de tudo isso, a população se mostra receosa que a UPA do Pascoal Ramos sofra também com a logística de atendimento que será adotada ali. Oliveira Gomes de Alcântara, 58, mora no bairro São Sebastião e recentemente passou em frente à unidade e ressalta que, pelo menos o prédio está bonito, mas que se preocupa com o trabalho que será desenvolvido ali, tanto pelos funcionários quanto pelos usuários. “A população corre é pra lá quando precisa, mas a gente se pergunta se vai ter aparelho necessário, médico para atender como precisa”, diz.
A esposa dele, Maria José da Silva, 41, sofre com hérnia de disco e teve que pagar ortopedista particular, mas ainda tem muitas dores e algumas vezes não consegue sequer aliviá-las. “O jeito é esperar, mas também torcer para melhorar, acreditar que ali vamos conseguir resolver as coisas”.
Maria Aparecida de Lima, 46, também tem as mesmas dúvidas. “Não adianta inaugurar só o prédio, sem médicos, assim como não oferecer as condições para que eles trabalhem. Os profissionais terão como nos atender?”, questiona.
A SMS foi procurada mas não se pronunciou sobre a inauguração da UPA do Pascoal Ramos e as reclamações da população.
Fonte: A Gazeta