“Não ao desmonte do hospital, pois da saúde não se tira um real.” Com palavras de ordem desse tipo, cerca de 200 alunos das faculdades de medicina e enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) realizaram, nesta segunda-feira (9), um protesto bem-humorado, mas também bastante crítico à atual situação do Hospital Universitário da entidade.
O alvo principal dos manifestantes – que também incluía alunos dos cursos de letras e odontologia – foi o reitor da USP, Marco Antonio Zago, e seu projeto de desvincular o HU da faculdade de medicina, o que, no entender deles, prejudicaria muito o ensino o atendimento à população.
Empunhando faixas com dizeres como “Contra a desvinculação, contra o sucateamento, contra o desmonte da universidade pública”, os manifestantes saíram pouco antes das 13h da frente do hospital, na Cidade Universitária, na região do Butantã, zona oeste da capital paulista, e caminharam até a reitoria, onde chegaram às 14h25. Com um carro de som e acompanhados pela bateria Arritmia, de alunos do curso de enfermagem, eles realizaram muito barulho em frente ao prédio onde fica o reitor. No entanto, pelo que a reportagem apurou, Zago está viajando.
“A situação do HU vem se deteriorando desde 2013-2014, quando houve congelamento das contratações e a USP iniciou o seu PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária). A falta de trabalhadores sobrecarrega aqueles que ficaram e muitos deles acabam pedindo demissão. Isso faz com que o hospital fique numa situação insustentável”, avalia André Cortez, 26 anos, aluno do 6º de medicina e um dos coordenadores do ato.
Maria Prandini, 20 anos, aluna do segundo ano e membro do Mosaico, um dos coletivos formados por alunos para discutir e encontrar soluções para os problemas da faculdade, diz que o estopim da mobilização ocorreu quando do fechamento parcial do pronto-socorro infantil, no mês passado, por falta de médicos pediatras.
“O reitor já deixou bem claro ao CAOC (Centro Acadêmico Oswaldo Cruz) que o projeto de desvinculação é uma certeza e que é só uma questão de tempo. Ele disse que, a partir desse ponto (o projeto), pode conversar com os alunos para que seja discutido o que querem que seja mantido no hospital”, conta.
Segundo Maria, parte do aprendizado seria complementado no Hospital das Clínicas, o que, na opinião dela, é um absurdo, uma vez que no HU os estudantes são mais preparados para casos do dia a dia, enquanto no HC o ensino é mais específico e voltado a casos mais graves.
O diretor do CAOC e aluno do segundo ano de medicina Guilherme Zaninetti, diz que, até hoje, tanto a diretoria da faculdade como a reitoria não apresentaram uma proposta concreta sobre o assunto. “Não dá para deixar o hospital ser desvinculado sem termos uma garantia de que a qualidade do ensino e do atendimento será preservada, além, é claro, das relações trabalhistas do hospital. Tenho a esperança de que este ato abra um canal de diálogo com a reitoria para que seja encontrada uma solução plausível e financeiramente viável”, aponta.
Guilherme Marinho, 21, aluno do 3º ano da medicina e também do centro acadêmico diz que os estudantes estão mobilizados nos dois últimos anos pois é visível que a má gestão da faculdade de medicina tem afetado a qualidade do ensino e o atendimento no hospital, com fechamento de leitos e do pronto-socorro infantil no mês passado. “Precisamos lutar para que a faculdade e o HU voltem a ter a excelência que já tiveram.”
Os manifestantes também pediram a reabertura das contas da USP, por conta de denúncias de corrupção, e criticaram a presença de organizações sociais, como a SPDM, na gestão da saúde pública. Na quarta-feira, 4, os alunos realizaram uma assembleia, que reuniu 600 pessoas, pouco mais da metade dos estudantes de medicina da USP, na qual votaram uma pauta de reinvindicações, como a não desvinculação do HU, e que servirá de guia para as mobilizações que pretendem fazer, como a de hoje.
Fonte: Simesp