Os números são alarmantes: mais de 7 milhões de mulheres no Brasil sofrem da doença causadora de dor e infertilidade. A endometriose é uma enfermidade inflamatória crônica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos). Estudos da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva constatam que se demora aproximadamente 12 anos para diagnosticar a doença.
A enfermidade silenciosa já recebeu o título de “Doença da Mulher Moderna” e se caracteriza pelo crescimento inapropriado do endométrio – tecido que envolve a parte interna do útero e se desenvolve todos os meses para possibilitar a gravidez. Quando não ocorre, o endométrio começa a descamar, ocasionando a menstruação. Porém, se ele se desenvolver e se acumular em outras regiões, como nas trompas e ovários, adquire o nome de endometriose.
A contadora Katia Franco, 38 anos, descobriu ser portadora da doença há um ano, porém, até ter conhecimento do que acontecia, foi uma longa jornada. “Eu sempre tive cólicas muito fortes e fluxo de menstruação intenso. Até 2013 não saia nada nos exames de rotina, mas de 2015 em diante as dores se tornaram mais frequentes, e não era só no período menstrual”, contou Katia.
Foi quando a contadora foi submetida a um ultrassom em que foi diagnosticado o porquê de a paciente não engravidar. “Deitada, senti abrir um buraco no mundo – me sugar para longe. O resultado mostrou que tinha presença de miomas e útero aumentado em decorrência da endometriose em formação. O órgão tinha triplicado de tamanho em 2 anos”.
Segundo a ginecologista Raquel Papandreus Dibi, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia RS, a explicação do tempo de consultas médicas até o diagnóstico correto seria o pouco conhecimento da doença no meio médico. “No nosso país eu acrescentaria ainda a questão cultural, pois muitas pessoas ainda acham normal e aceitável que a mulher sinta dor durante a menstruação”, ressalta Raquel.
Nos países desenvolvidos, a endometriose está entre as principais causas de hospitalização ginecológica, gerando altos custos para os sistemas de saúde. O impacto econômico se dá devido ao atraso no diagnóstico e dos caros tratamentos por se tratar de uma doença crônica. No Brasil, a última estimativa é de 2012 em que ocorreu um gasto anual com a doença de 183,2 bilhões de reais.
“O tratamento deve ser realizado preferencialmente em serviços de referência, pois o diagnóstico e mapeamento corretos da endometriose são essenciais para que se tenha um tratamento mais adequado. Esse pode ser clínico, cirúrgico ou combinado. Mulheres com infertilidade e endometriose associadas podem, em alguns casos, necessitar também de reprodução assistida”, destacou a ginecologista.
Casada há 20 anos, hoje Kátia vê na adoção a realização de um sonho. “Nunca me dei conta que tinha este problema por não ter engravidado naturalmente sem usar preservativo ou pílula. Sempre trabalhei muito, nunca parei para planejar ter filho. Diziam que a demora era ‘normal’ e que o problema podia ser o meu marido. Hoje estou em tratamento com um médico, tomo medicação e penso em adotar uma criança para, graças a Deus, conseguir ser mãe”.
Fonte: Simers